A prisão de José Carlos Lyra, a caixa preta do Sistema S e a elite alagoana

20/02/2019 13:50 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A prisão do presidente da Federação das Indústrias de Alagoas, José Carlos Lyra de Andrade, estremeceu o topo da elite econômica e política no estado. Detido nesta terça-feira 19, ele foi solto no mesmo dia. A entidade é acusada pela Polícia Federal de integrar um esquema de desvio de dinheiro a partir de convênios fajutos com o Ministério do Turismo. E vem mais coisa por aí.

A operação da PF, que alcançou seis estados e o Distrito Federal, prendeu até o presidente da CNI, a Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade. Todos os detidos foram liberados horas depois da ação policial. A lista completa dos suspeitos e os detalhes do caso estão nas notícias que o leitor pode conferir aqui no CADAMINUTO. A maracutaia teria desviado 400 milhões de reais.

O que chama atenção é verificar o quanto a notícia incomoda os setores que habitam o topo, digamos assim, da pirâmide alagoense. A comoção é tamanha, que a TV Gazeta preservou a imagem de José Carlos Lyra, evitando recorrer ao arquivo para informar de quem se trata. Como sua prisão não foi registrada no momento em que ocorreu, a única forma de mostrá-lo aos telespectadores seria com material arquivado. Nada. A imagem que a TV Gazeta evitou apareceu na TV Globo.

Também percebi que houve uma série de manifestações em defesa do “legado” da Federação das Indústrias para nosso estado. Fiquei até comovido com esse tipo de solidariedade ao patrocinador das boas causas que beneficiam o povo alagoano. Certamente a tristeza generalizada com essa injusta prisão logo será superada – e todos voltarão aos bons tempos do idealismo.

Não sei quem é culpado nem se existe inocente nas denúncias que surgem agora. O que todos sabem é que essas entidades do Sistema S, há muito tempo, são usadas como feudos de uma casta que transita com desenvoltura entre os cofres públicos e os interesses privados. A gestão da fortuna arrecadada é uma caixa preta. É nessa montanha de dinheiro que Paulo Guedes mirou uma “facada”.

Mas um ponto realmente explosivo nas federações das indústrias é a relação com o mundo da política. Vejam o caso de Paulo Skaf, eterno presidente da Fiesp, o homem que usa a entidade para suas sucessivas campanhas eleitorais. O mesmo ocorre em todos os estados, com o financiamento de candidatos simpáticos à “filantropia” dos senhores da indústria. Isso está consagrado no país.

Para ficarmos no exemplo caseiro, a cada quatro anos, na eleição para governador, o apoio da FIEA é disputado praticamente na porrada. Todos querem a adesão da poderosa entidade. A ausência de renovação no comando do Sistema S facilita a ocorrência de práticas nada republicanas. José Carlos Lyra deve estar na presidência da FIEA há uns 50 anos. Aliás, o mandato atual vai até 2022.

Vamos ver se o susto de agora, via Polícia Federal, muda alguma coisa na monstruosa e milionária estrutura dessas entidades. Não acredito que isso ocorra com facilidade e rapidez. A engrenagem está armada para manter exatamente as coisas do jeito que sempre estiveram. A ampla solidariedade a José Carlos Lyra atesta que o homem tem muitos amigos – todos movidos pelo amor a Alagoas.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..