Brasil, um país armado e sem alvará

19/02/2019 00:15 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Depois do incêndio no Centro de Treinamento do  Flamengo, que matou dez garotos da base do clube, descobriu-se que o local não tinha alvará do Corpo de Bombeiros. O mesmo tipo de ilegalidade é a regra Brasil afora quando se apura a situação em cada estado. Aqui em Alagoas, CSA e CRB também driblam a exigência para manter suas atividades nesses ambientes de trabalho.

E não acontece nada. Basta pesquisar os acidentes que ocorreram nos últimos anos no país, para se verificar a escandalosa realidade: alvará de funcionamento é uma peça de ficção em centros comerciais, prédios residenciais ou casas de espetáculos, por exemplo. Nem órgãos públicos escapam. A prefeitura do Rio, cidade da tragédia do Flamengo, não tem alvará dos Bombeiros.

Em muitos casos, quando ocorre um desabamento ou um incêndio, descobre-se que os laudos e alvarás que atestavam a segurança do local foram obtidos por meio de pagamento de propina. Temos aí um crime em dose dupla, quando a negligência e a incompetência se juntam à corrupção. Para completar o descalabro, passados alguns dias da comoção após a tragédia, fica tudo na mesma.

Afinal, para que serve a obrigação de ter um alvará, se isso é desrespeitado às claras por todo mundo? Quando você entra num restaurante ou num teatro, e vê um quadro na parede com a cópia de um documento que atesta a legalidade daquele espaço, não pense que está tudo bem. O mais provável é que a papelada seja apenas o retrato de uma fraude. Para obter o atestado, basta pagar.

O país que funciona sem alvará é o mesmo em que cidadãos de bem andam armados – agora com a aprovação de um governo amigo de milícias e milicianos. O faroeste incentivado pelo presidente desqualificado e seus três filhotes delinquentes está sintetizado na imagem do animal que executou um taxista em João Pessoa. As cenas de selvageria foram registradas por câmeras de vigilância.

É esse tipo de ocorrência que tem tudo para explodir no Brasil, com a liberação de uma arma de fogo para cada um. Não confio em ninguém que defenda de modo fanático o direito de passear pela cidade com um revólver escondido embaixo da camisa. Quero distância de sujeitos que precisam de uma pistola para concretizar, digamos assim, suas taras existenciais. Boa coisa não sai desses tipos. 

Campeão mundial de homicídios dolosos, com mais de 60 mil mortes por ano, o Brasil entrou na era da política de segurança de Jair Bolsonaro, agora sob a inspiração do ex-juizinho Sergio Moro. As ideias de um e de outro combinam. Moro é um bolsonarista vulgar, com verniz de modernoso, para enganar quem se dispõe a ser enganado. Seu pacote anticrime é populista e ineficaz.

São Paulo e Rio de Janeiro, os dois maiores estados do país, elegeram governadores mequetrefes que também estão surfando na onda do prende, arrebenta e elimina. Exaltam a matança oficial nas periferias das cidades como política de governo. Com esse tipo de gentalha no topo da vida pública, o Brasil assume de vez a marca de terra do alvará fantasma e da licença para matar impunemente.

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