Tida do Brejinho é parte de fraude nacional

15/02/2019 17:15 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O festival de candidaturas de fachada nas eleições de 2018 vem sendo revelado por uma série de reportagens da Folha de S. Paulo. Primeiro o jornal mostrou que a maracutaia foi adotada pelo PSL, o partido da “nova política” que abriga o presidente Jair Bolsonaro. Nesta sexta-feira, a Folha apresenta um levantamento amplo sobre esse tipo de esquema – e várias outras legendas se juntam ao PSL.

Sobrou até para Alagoas, por que não, ora? Filiada ao PSD, a senhora Tida do Brejinho foi candidata a deputada federal. Para tocar sua campanha, ela recebeu 450 mil reais. Com uma grana dessas – que poucos candidatos no país conseguiram –, era de se esperar que tivesse um desempenho razoável nas urnas. Poderia não ser eleita, claro, mas a votação dificilmente seria algo desprezível.

Mas foi exatamente o que aconteceu. Tida do Brejinho obteve 233 votos. Aí não tem explicação para o fenômeno. A quantidade de votos, com toda a dinheirama à disposição, indica o que pode ter ocorrido de verdade: a candidata não fez campanha; a grana que recebeu não foi usada em sua suposta aventura eleitoral. A fortíssima suspeita é de que Brejinho foi mais uma “laranja” na urna.

E onde foi parar o dinheiro repassado oficialmente à candidata que não fez campanha? Esse é o coração do mistério. Não precisa ser um gênio da investigação para deduzir o mais lógico – foi desviado para caciques partidários que mandam nas legendas e decidem quem vai disputar as eleições. A prática está disseminada de ponta a ponta no arco ideológico do mundo político.

O esquema revela outra fraude forjada pelos partidos. Trata-se de burlar a lei que determina a cota de 30% de candidatas mulheres. As siglas inventaram concorrentes apenas para cumprir a regra, mas só no papel. O repasse do fundo destinado às eleições também tem de obedecer à cota dos 30%. Parece claro que, com o laranjal, os bandidos cometem uma farsa em duas frentes.

De volta ao exemplo de “renovação”, o PSL é presidido pelo deputado federal Luciano Bivar. Trata-se de um notório cartola do futebol pernambucano, com uma extensa folha corrida como presidente do Sport. Confrontado pela Folha sobre candidata laranja em sua terra, saiu-se com a explicação vigarista de que mulher não tem vocação pra política. É o que pensa a quadrilha Bolsonaro.

Numa avaliação mais ampla, a descoberta do escândalo prova que, mais uma vez, inventamos outra lei de mentirinha. Os caras não brincam em serviço. Cota? De jeito maneira! Quando soube que isso seria obrigatório, a cacicada rapidamente tramou um jeito de, fingindo obediência à legislação, deixar tudo exatamente do mesmo jeito. Por isso Tida do Brejinho virou uma campeã de votos.

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