Os Bolsonaro, as milícias e o Senado

30/01/2019 14:36 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Em entrevista à Folha, José Padilha, o diretor de Tropa de Elite, disse que os fanáticos por Jair Bolsonaro votaram no Capitão Nascimento, mas elegeram o Rocha, o policial corrupto que, no filme de Padilha, chefia uma milícia nos morros cariocas. Foi uma boa imagem, diante das revelações que indicam forte amizade entre Flávio Bolsonaro e integrantes desse tipo de grupo criminoso.

Aliás, é obrigatório lembrar sempre que a simpatia a matadores e a grupos de extermínio é um traço na biografia de Jair Bolsonaro, o estadista que hoje preside o país. Em mais de uma oportunidade, ele defendeu a atuação de milicianos, assassinos de aluguel, tratados por Bolsonaro como heróis que “combatem a violência”. Com sua eleição, parece que as milícias se sentem incentivada ao negócio.

Além dos evidentes indícios de corrupção e lavagem de dinheiro, a ligação com milícias é outra encrenca que pode ser associada à conduta do filho do presidente da República. O garoto não mantinha relação com qualquer subordinado no meio da bandidagem, não senhor. Os nomes ligados ao senador eleito estão entre os cabeças do Escritório do Crime, denominação “oficial” da quadrilha.

Está chegando o dia da posse no mandato para deputados e senadores. Será nesta sexta-feira, 1º de fevereiro. Muita gente defende que Flávio deveria renunciar, antes mesmo de assumir o posto, pra afastar do pai a crise em curso. Mas isso não vai ocorrer, é claro. Agora, o que teremos será um senador na lona já a partir do primeiro dia de legislatura. O carimbo de vacilão tá no meio da testa.

Antes do escândalo começar com o hoje notório Fabrício Queiroz, o filho Zero 1 de Bolsonaro já se assanhava para ser candidato a presidente do Senado. Estava certo de que chegaria chegando. Deu tudo errado. Com o cenário que se impôs em decorrência das revelações sobre dinheiro inexplicável e enriquecimento galopante, o parlamentar não tem moral para contestar coisa nenhuma.

Se estava pronto a ocupar espaço com muito poder, Flávio Bolsonaro tem de baixar a cabeça num colegiado cheio de raposas e veteranos na arte da política. A qualquer gesto visto como arrogância, por exemplo, será cobrado a dar explicações sobre os fatos graves, cheios de detalhes sempre obscuros. Situação terrível, comparável à de Aécio Neves, um fantasma com mandato na Câmara.

A situação do filho do presidente acaba sendo mais um fator de influência na eleição para o comando do Senado. Não é por acaso que, mesmo sendo alvo da tropa bolsonarista, Renan Calheiros saiu em defesa de Flávio, distribuindo afeto e conforto ao futuro colega no parlamento. Se a postura sensibilizou o governo, não sabemos. Até sexta, acordos e  pressões estão na praça.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..