Associação de Oficiais publica nota abjeta em defesa do covardão PM que bate em mulher

11/01/2019 00:09 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A Associação dos Oficiais Militares de Alagoas divulgou uma nota sobre a agressão do major André Dias contra uma jovem de 18 anos, em Maceió. Acredite: a entidade defende o associado, com um texto que é simplesmente asqueroso. Aliás, é uma das coisas mais abjetas que li nos últimos tempos.

O palavrório começa assim: A ASSOMAL vem a público manifestar sua solidariedade ao Major PM André Dias no sentido de que haja a devida apuração das ações decorrentes de ocorrência policial acontecida na manhã do dia 25 de dezembro de 2018, de acordo com legislação vigente....

Que “ação policial” foi essa, senhores do oficialato da Polícia Militar? Isso é uma deslavada mentira. O major não estava em serviço. Ele foi se meter numa reunião particular que ocorria na área livre de um conjunto residencial. Não estava gostando do “barulho” e decidiu interferir na base do grito.  

A nota, com essa tosca verborragia, pretende transformar um ato exclusivamente pessoal numa atuação de caráter legal. É uma safadeza, que tenta bisonhamente manipular os fatos. O que as imagens mostram com clareza é um troglodita que desfere violento golpe no rosto de uma garota.

Em seguida, a nota dos oficiais – que o CADAMINUTO publica na íntegra – se dana a vulgaridades sobre a “violência no Brasil”! É uma piada. Tenham vergonha! A entidade tem a coragem de afirmar que repudia “a execração pública” do major – elogiado pelo “currículo exemplar”.

Como escrevi em texto anterior, esse valentão que bate em mulher deveria ter sido preso pelo Comando da PM. Mas, pelo visto, o agressor deve ter padrinhos de alta patente. Ele foi afastado do cargo de subcomandante de um batalhão, o que é o mínimo. Só faltava ter permanecido no posto.

Uma curiosidade: existem oficiais mulheres nessa bizarra associação? Se existem, concordam com os termos vagabundos dessa nota? Ou se sentem coagidas ao silêncio diante da macheza dos colegas – que são a ampla maioria na corporação? Insisto: esse episódio não é um caso isolado. É tradição.

Vi no telejornal da TV Gazeta o pai da garota, que também é policial, dizendo que a filha está com medo de sair de casa, traumatizada, à base de remédios. Não é para menos, naturalmente. Imagino a revolta da família diante da estúpida manifestação dos oficiais, solidários ao covardão.

Quem merece solidariedade é a vítima, e não o autor do ato sórdido. A nota da associação é um descalabro, um velado incentivo à naturalização da violência contra a mulher – é disso que se trata. Cobrei uma posição do Ministério Público e do governador. Até agora, estão omissos.

Agora, algumas palavras sobre a declaração do advogado do major, um tal Napoleão Junior. Na reportagem da TV Gazeta, ele diz que o agressor agiu em “legítima defesa”. A fala é criminosa. Napoleão recorre à tese medieval, que por muito tempo vigorou, de legítima defesa da honra.

Para quem não sabe, sob esse argumento vil, assassinos confessos de mulheres eram absolvidos nos tribunais brasileiros. Como se vê, a ideia continua a poluir a cabecinha oca de certos operadores do Direito. Napoleão Junior e a nota dos oficiais se abraçam numa tese que é apenas lixo.

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