Todos os dias no Brasil, infalivelmente, mulheres são vítimas de violência praticada por homens. É uma das tragédias nacionais que não conseguimos combater com a eficácia necessária. Levantamento do G1 em 2018 informa que são 12 assassinatos a cada 24 horas. Estamos no topo mundial de estatística vergonhosa. Ainda assim, para bolsonaristas, tudo isso é só “mimimi”.

Escrevo sobre esse descalabro após divulgação de um vídeo em que o major André Dias, da Polícia Militar de Alagoas, aparece agredindo uma jovem com um violento tapa do rosto. A moça chega a se desequilibrar e só não vai ao chão porque é amparada por outras pessoas. O agressor, um evidente covardão, é subcomandante de um batalhão em Maceió. Após o vídeo, ele foi afastado.

Nas imagens, o elemento aparece aos gritos diante de um grupo que estaria numa confraternização na calçada de um conjunto residencial. Ao redor do cretino, há vários homens com quem ele discute. Mas o valentão de meia pataca se irrita mesmo é com a jovem, que mal lhe dirige a palavra e recebe a patada desferida por esse vagabundo. Por que o comando da PM não decidiu por sua prisão?

Sempre tão zelosa com a disciplina, a corporação deveria ter encarcerado o major André Dias – passar a mão na cabeça do agressor é apenas uma forma de incentivar mais violência contra a mulher. Vou lembrar o óbvio: o caso não deve ser visto como isolado. Como disse, é uma tradição brasileira, segundo todos os estudos disponíveis a respeito, produzidos por diferentes instituições.

O governador Renan Filho deveria se manifestar sobre o caso. Aliás, sugiro que ele determine ao comando da PM a prisão do desqualificado oficial. Seria uma medida pedagógica. Em certas ocasiões, precisamos deixar claro que tipo de princípios defendemos – seja na vida pública ou na conduta pessoal. O governo, afinal de contas, certamente não concorda que isso seja mimimi.

Governos adoram fazer propaganda de “políticas públicas” de proteção à mulher. O problema é que isso fica muito mais no discurso. Pois não adianta só o falatório ditado por marqueteiros. Numa hora dessas, em que um agente do Estado inverte os fatores e comete um crime, escandalosamente visto à luz do sol, um governante tem de dizer a que veio. Tem de mostrar que repudia e combate o crime.

E por onde anda o Ministério Público Estadual? Vai ficar calado também? Ou será que os doutores que comandam o MP acham que respeitar a mulher é promover festinha no dia 8 de março? Se algum desavisado acha que estou exagerando, releia os números trágicos no começo deste texto.

O major André Dias – o valentão que bate em mulher – é causa e sintoma ao mesmo tempo de uma degradação moral incentivada por “cidadãos de bem”, de ontem e de hoje. Que o focinho desse sujeito circule bastante, para que todo mundo o veja desmoralizado. É o mínimo a acontecer.