O jornalismo e a venda da Editora Abril

20/12/2018 15:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Sinal dos tempos, o império da Editora Abril foi ao solo com uma dívida de 1,6 bilhão de reais. O grupo, que tem na revista Veja sua estrela maior no mercado de publicações da imprensa brasileira, passa por regime de recuperação judicial desde agosto deste ano. A família Civita já estava afastada do comando dos negócios, que estão sendo tocados por uma empresa de consultoria. Desde que a crise se aprofundou, centenas de funcionários foram demitidos e até agora amargam um calote.

Na manhã desta quinta-feira, em comunicado oficial, a Abril confirmou que o empresário Fábio Carvalho adquiriu o gigante em estado falimentar. Ele será o presidente do grupo e garante recuperar o estrago. O processo, que ainda depende de aprovação do Cade, será concluído em fevereiro.    

Até poucos anos atrás, se alguém dissesse que os Civita levariam a empresa ao buraco, seria visto como lunático. Mas o avanço da internet tratou de tornar realidade o que parecia algo impensável. O endividamento junto a bancos selou o destino do conjunto de empresas que se queria indestrutível.

Com a troca de comando, especula-se acerca dos rumos editoriais da Veja – que ao longo da última década radicalizou a pegada no campo da extrema direita. Por enquanto não se fala em troca de nomes na chefia da redação da revista. É bem verdade que os mais radicais já estavam fora.

A venda da Abril é mais um capítulo da nova era do jornalismo, após a explosão do consumo de notícias por meios virtuais. O tsunami atingiu marcas a rodo, incluindo os maiores jornais do mundo, como o Washington Post, vendido ao bilionário Jeff Bezos, o homem que inventou a Amazon.

Por aqui temos o exemplo recente da Gazeta de Alagoas. Aos 84 anos de existência, o até então diário mais antigo do estado deixou de circular diariamente e se transformou num semanário. É mudança de hábito forçada pela revolução no jeito de produzir e veicular todo tipo de informação.

Dos veículos locais aos jornais e revistas de alcance nacional, ninguém escapa dos efeitos da ventania incontrolável. O planeta digital exige da imprensa e dos jornalistas criatividade e capacidade de adaptação. Quem ainda fica reclamando da revolução, está claro, será engolido pelo novo.

(O fim da edição diária da Gazeta merece texto específico. Passei ali parte da minha vida profissional, com experiências marcantes. É tanta coisa, que nem sei por onde começar. Ainda escreverei).

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