Uma facada no Sistema S

18/12/2018 00:10 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O futuro ministro da Economia, Pulo Guedes, deu um tranco nos poderosos do Sistema S, em discurso para empresários e diretores da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro. No seu estilo, com preocupação zero em diplomacia, ele disparou: “Como é que você pode cortar isso, cortar aquilo e não cortar o Sistema S? Tem que meter a faca no Sistema S também”. A plateia não gostou.

Ao ver a reação da turma, Guedes avançou no raciocínio, em tom de ironia, beirando o deboche: “Ó! Vocês estão achando que a CUT perde sindicatos, e aqui fica tudo igual, o almoço é bom desse jeito, ninguém contribui?”. Segundo o economista, se houver colaboração e diálogo, o corte pode ser de 30%. Mas, se não houver acordo, a facada pode ir mais fundo, batendo nos 50%.

Não há dúvida de que o novo czar das finanças públicas brasileiras mexe num vespeiro. Sebrae, Sesc, Sesi e federações em todo o país correm livres, movimentando bilhões, beneficiados pelo repasse obrigatório de empresas e indústrias. A aplicação e a prestação de contas desses recursos não podem ser consideradas algo propriamente transparente. Ao contrário, a coisa é obscura.

Nesse caso, as palavras de Paulo Guedes estão sim de acordo com a realidade – uma realidade que de fato precisa de um forte ajuste, e não é de hoje. Há muito dinheiro escoando para essas entidades, sem que se saiba com clareza quais são os critérios para decidir o destino dos recursos. O ministro, que ouviu alguma chiadeira dos presentes ao encontro, também foi aplaudido. Ainda vai render.    

É claro que o Sistema S tem relevantes serviços prestados ao país, sobretudo nos programas de treinamento, reciclagem e formação de mão de obra nos mais variados setores da economia. Também exerce papel de destaque na área cultural, com patrocínios que viabilizam inúmeros projetos, nos diferentes campos da arte. Há uma reconhecida tradição meritória de boas realizações.

No conjunto da obra, porém, o bilionário Sistema S está longe do ideal. O aspecto mais deletério é o uso político dessas entidades. O que se vê na Fiesp, a gigante Federação das Indústrias de São Paulo, é um escândalo. Paulo Skaf, o eterno presidente, transformou aquilo num comitê eleitoral permanente em seu próprio benefício. A última jogada foi disputar o governo paulista.

A partir de janeiro veremos como os senhores que dominam essa potência, resumida em singelas siglas iniciadas com aquele S, vão se portar na hora da facada do superministro. Suspeito que a resistência será duríssima. Afinal, todo mundo defende cortes e ajustes – desde que isso ataque o bolso e os cofres dos outros. A encrenca será um dos testes para o governo do capitão Bolsonaro.

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