Sob suspeita, Bolsonaro é nosso pato manco

14/12/2018 23:01 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Jair Bolsonaro assumirá o posto de presidente como refém de um escândalo. É a pior notícia que ele poderia engolir durante a transição de governo. O homem que promete acabar com a corrupção receberá a faixa sob suspeita. Sim, a coisa diz respeito ao senador eleito Flávio Bolsonaro, mas a associação com o capitão é incontornável. Estou falando, claro, do caso que envolve Fabrício Queiroz, o ex-assessor parlamentar de Flávio que movimentou 1,2 milhão de reais em sua conta.

Os indícios de pilantragem vão ficando cada vez mais robustos. É que o misterioso Fabrício também encaixou uma filhinha na folha de pagamento da família Bolsonaro. Qual o problema? Ao que parece, a moça tinha um ótimo salário, mas não era muito de aparecer no batente. Nathalia Queiroz foi secretária parlamentar de Jair Bolsonaro entre dezembro de 2016 e outubro deste ano.

A piada é que a “secretária” trabalha há muito tempo como professora de educação física na cidade maravilhosa, bem longe do gabinete do capitão, lá em Brasília. Em suas redes sociais, a polivalente Nathalia aparece como “personal trainer” em fotos ao lado de celebridades – Bruna Marquezine é uma delas. A dupla jornada de trabalho não parece plausível nessa enrolada.

Do jeito que a “assessora” dos Bolsonaros se apresenta publicamente, fica bem claro que ela dedica toda atenção à saúde corporal de seus clientes. Aliás, ela se apresentava publicamente: ao ser procurada pela Folha, para se explicar, a personal apagou tudo em suas redes sociais. Que medo foi esse? Por que se esconder, se não deve nada a ninguém, se tudo está dentro da legalidade?

As suspeitas não acabam aí. O Jornal Nacional revelou que outro assessor de Flávio Bolsonaro ganhava salário da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, mas vivia a maior parte do tempo em Portugal. Wellington Romano da Silva é mais uma peça no emaranhado que assombra o capitão.

Até agora, tirante o presidente eleito e família, os três personagens citados nessa controvérsia evaporaram. Silêncio completo. Especula-se que estejam elaborando um bom discurso, padronizado e em harmonia com os interesses de Jair Messias. Também nesse ponto, isso é da velha política.

A tensão paira no ar – e isso acabou ofuscando os debates sobre grandes temas que estão na mesa da transição. E é isso mesmo o que tem de acontecer, afinal o futuro presidente vendeu ao distinto público a ideia de que ele e seus filhotes são mais honestos que Jesus e Nossa Senhora. Lembram?

Pato manco. A expressão é famosa nos Estados Unidos, usada para se referir ao presidente que cumpre os últimos dias de mandato. Ninguém dá muita bola ao mandatário de saída. Por razões peculiares, o Brasil inverteu as coisas: a faixa cairá nos ombros de um pato sem essa moral toda.

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