Os Bolsonaros e um velho golpe na política

14/12/2018 16:38 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O roteiro consagrado na rotina da política brasileira prevê o seguinte: primeiro, no exercício do mandato parlamentar, um deputado tem direito a contratar um balaio de assessores; em seguida, esse deputado trama um jeito de turbinar seus modestos rendimentos; o terceiro e definitivo passo para resolver a questão é meter a mão no salário daquele balaio de servidores comissionados.

Eis o enredo no qual, tudo indica, se meteu o deputado carioca Flávio Bolsonaro, um dos filhotes do presidente eleito, Jair Messias. Faz uma semana que o caso explodiu – e até agora nenhuma miserável explicação dos envolvidos. Como se sabe, Fabrício Queiroz, o misterioso homem dos Bolsonaros, movimentou 1,2 milhão de reais, entre saques e depósitos, numa ação bem esquisita.

Em outro texto, ainda escreverei sobre as manifestações do presidente eleito e seu garoto peralta. Mas agora vamos falar um pouco mais sobre essa tradição de confisco no salário de assessores parlamentares. É uma prática tão antiga no Brasil quanto o hábito de andar para frente. Ocorre nas três esferas – da vereança nos confins do interior ao parlamento no âmbito federal.

Claro que o esquema só ocorre porque os dois lados concordam nos termos do contrato. Assim, um assessor que recebe, por exemplo, 5 mil reais, “devolve” ao titular do mandato a percentagem acertada entre empregador e empregado. O funcionário pode repassar 30% do valor, a metade ou até 70% do vencimento. É com critérios assim que representantes do povo contratam assessores.  

Há outro componente fatal desse método: os contratados por tal mecanismo geralmente nem comparecem ao local de trabalho. Ou seja, além da mutreta do repasse ilegal, estamos diante também do velho fenômeno conhecido como servidor fantasma – um crime em cima do outro. Portanto, Flávio é suspeito de, como deputado no Rio, adotar esse virtuoso modo de fazer política.

Fico aqui pensando como andam as contratações de servidores em Câmaras Municipais alagoanas e em nossa honrada Assembleia Legislativa. Será que esse tipo de relação trabalhista estaria em andamento em alguns gabinetes de vereadores e deputados estaduais? Certamente não. Fico até preocupado em parecer ofensivo com essas divagações sobre ilibados homens públicos.

Assim como disse Flávio Bolsonaro, deve ser tudo intriga dessa imprensa suja. É o que pensam igualmente os cidadãos de bem que veneram o capitão da tortura. Mas sobre isso, reitero, escreverei algo em outro post. Por enquanto, vamos esperar os próximos capítulos acerca do amigão da família do estadista que toma posse em primeiro de janeiro. Novos tempos, velho Brasil.

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