Crise na coleta de lixo em Maceió cheira mal

02/12/2018 16:00 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O lixo está amontoado nas ruas de Maceió. Um problema, sem dúvida. Mas encrenca pra valer é o que pode estar na origem dessa situação. O que a imprensa publica sobre o assunto não esclarece nada acerca da troca de empresas para o serviço de coleta nos bairros da capital. Sai a notória Viva Ambiental e entram duas novas firmas que assumem o trabalho a partir de agora.

Muito bem. Não sabemos por que a Prefeitura de Maceió operou essa troca. Pra completar o mistério, a Viva cobra uma dívida de 100 milhões de reais do município. É dinheiro pra danar. O prefeito Rui Palmeira reconhece que há um débito com a empresa, mas questiona o valor. Segundo ele, haverá uma auditoria para esclarecer se a conta é essa de fato ou se há algo errado nas cifras.

O Ministério Público Estadual investiga os contratos para coleta do lixo – e não é de hoje. Na versão oficial sobre os últimos lances desse negócio, reproduzida pela imprensa, está tudo nos conformes. O prefeito garante que todas as informações foram prestadas e não haveria nada de grave no pagamento à Viva. Não é bem assim, eu diria. Sobram suspeitas de irregularidades.

Eu falei na origem do colapso do serviço. Boas pistas sobre o que se passou na relação Prefeitura-Viva Ambiental podem ser encontradas na Arser, a Agência Municipal de Regulação de Serviços Delegados. É o órgão responsável por garantir a lisura de todas as licitações, em todas as secretarias e superintendências municipais. Nada pode ser levado adiante sem passar pelo crivo da Arser.

E como anda a gestão da agência reguladora no governo Rui Palmeira? Aí começamos a puxar o fio de um novelo cheio de complicações. No fim de setembro, portanto há pouco mais de dois meses, o prefeito demitiu o então diretor-presidente do órgão, o advogado Ricardo Wanderley. Atenção para este fato: Wanderley caiu por suas qualidades, porque agia sem trégua na defesa da legalidade.

Vejam outro dado bastante chamativo: Ricardo Wanderley era um dos intocáveis na equipe do prefeito. Homem de confiança de Rui, respeitado pelo currículo e reconhecido como linha dura no combate a qualquer sinal de mutreta, Wanderley atraiu a fúria de quem se sentia frustrado diante de sua postura intolerante a jogadas espúrias. Estranhamente, o prefeito escolheu o outro lado.

Perguntem aos promotores do Ministério Público que apuram o caso o que têm a dizer do trabalho de Wanderley na Arser. Quando o MP agiu sobre a suspeita de ilegalidade na gestão da Slum, o então presidente da agência prestou todas as informações requisitadas – sem maquiagem nem dissimulação. Ao fazer isso, ou seja, ao agir com transparência e probidade, assinou a própria queda.

Falei da Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió. Se a Arser era um exemplo de correção e seriedade até um dia desses, a Slum é o oposto disso. Um de seus últimos chefes se deu bem na eleição passada e abocanhou um mandato de deputado estadual. Consta que o rapaz deixou o cargo, mas, durante a campanha, continuou dando as ordens por lá. Uma repartição sob a política.

Lembram da “máfia do lixo” na gestão Cícero Almeida? Ele nega tudo, mas o processo até hoje se arrasta na Justiça. As ações na Superintendência de Limpeza não zelariam, digamos assim, por princípios republicanos. As coisas podem tomar rumos barulhentos caso o MP leve adiante uma investigação diligente. Lixo nas calçadas não é nada perto do que cheira mal em exóticos contratos.

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