Entre o muito ruim e o péssimo

29/10/2018 23:42 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Os brasileiros escolheram democraticamente o discurso classificado como extrema direita – ou pelo menos a forma como essa ideia é entendida mundo afora. Nas entrevistas que concedeu a telejornais na noite desta segunda-feira, o presidente eleito Jair Bolsonaro reiterou ataques a minorias e, sobretudo, à liberdade de imprensa. Vou falar desse ponto específico num próximo texto. Antes, uma geral sobre o panorama que se confirma depois das urnas. O país passa por uma novidade e tanto.

Pela primeira vez desde a volta das eleições diretas para o Planalto, há três décadas, temos um grupo no poder com ideias que até agora habitavam o submundo da política. Intolerância geral é marca registrada do bolsonarismo. O Brasil elegeu um presidente que apoia a tortura e nega a existência de uma ditadura no país. Veremos em breve como isso vai se combinar com o governo.

Um dado preocupante, a reforçar a suspeita de um governo autoritário, é que Bolsonaro não desceu do palanque. A eleição acabou, mas ele continua no ataque, atirando em todas as direções. Falou do Mercosul; falou do MST e do MTST; tratou das minorias, que aliás voltou a ironizar; especulou sobre a oposição etc. Quando se refere a tudo isso, o presidente eleito reafirma intenções descabidas.

Ao contrário do eleito, que declarou na campanha a disposição de não reconhecer outro resultado das urnas que não fosse sua vitória, lembro que sua conquista é legítima, se deu dentro das regras e consagra a vontade da maioria absoluta dos eleitores. Dito o óbvio, a maioria do povo não escolheu Bolsonaro – preferiu Fernando Haddad, anulou o voto, deu branco ou não compareceu.  

Agora, ele vai governar. Ao lado das trombadas com essa agenda que passa pelos direitos da sociedade, a pauta na área da economia é uma bomba. As brigas que devem ocorrer com o Congresso já ocorrem na equipe do futuro governo. Previdência e privatizações, dois temas dos mais incendiários, dividem opiniões e abrem fissuras entre alas da equipe e o próprio Bolsonaro.

E tem essa reveladora lua de mel com Sergio Moro, o juiz da Lava Jato que os fanáticos seguidores de Bolsonaro elegeram como herói dos cidadãos de bem. O presidente que toma posse em primeiro de janeiro confirmou que ou indicará Moro ao STF ou nomeará o doutor para comandar o Ministério da Justiça. Do jeito que Bolsonaro fala, o togado pode escolher a cadeira que prefeir. Está feito.

De tudo o que li sobre a eleição de Jair Messias, juntando com o que o presidente eleito disse nas últimas 24 horas, e juntando ainda com o que penso sobre os fatos, a conclusão é a seguinte: foi mesmo um grande salto num imenso escuro. Sobre o futuro governo, temos de esperar pra ver qual é. Já Bolsonaro, um dia após a eleição, teve desempenho entre o muito ruim e o péssimo.

A relação de Bolsonaro com a imprensa será um capítulo à parte. Durante toda a campanha, ele deu mostras do que pensa sobre jornalismo e liberdade de expressão. É conflito. Nesse ponto específico, o Trump brasileiro admira os métodos do presidente americano. Trato disso num próximo texto.

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