Voto em defesa da vida e da liberdade

28/10/2018 04:54 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Quando o Brasil reencontrou a democracia, no remoto ano de 1989, eu estava lá na minha primeira eleição para presidente da República. Naquele tempo, internet era ficção científica. Telefone celular também. Computador era coisa de rico. Lá fora, o mundo passava por um terremoto político que mais lembrava coisa de cinema. Desmoronava a União Soviética. Foi destruído o Muro de Berlim.

Com o fim da ditadura militar, e depois da frustração com a derrota da Emenda Dante de Oliveira, em 1984 – que previa eleição presidencial direta no ano seguinte –, finalmente o brasileiro poderia escolher o comandante do país. Soa até como brincadeira, mas nada menos que 22 nomes se apresentaram como candidatos em 1989. Silvio Santos, a 23ª candidatura, foi barrado na Justiça.

Lendas da política nacional pediam votos numa incomparável campanha eleitoral. Entre os candidatos estavam Leonel Brizola, Ulysses Guimarães, Mario Covas e Fernando Gabeira. Também concorriam Paulo Maluf, Aureliano Chaves, Roberto Freire e Ronaldo Caiado. E havia o candidato bordão “Meu nome é Enéas!” – que fez história e, digamos assim, inaugurou um estilo.

Dos 22 personagens daquela disputa, alguns já partiram na viagem definitiva que um dia todos faremos. Outros se aposentaram da batalha por votos, como Guilherme Afif Domingos e o citado Gabeira. E alguns ainda estão aí, vitoriosos ou derrotados nas eleições de agora, como Roberto Freire e Ronaldo Caiado. Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva foram ao segundo turno.

O “caçador de marajás”, eleito governador de Alagoas em 1986, colou no peito a bandeira do Brasil, para dizer nos debates e palanques: “Nossas cores são o verde e o amarelo”. Porque nem tudo muda, também ali uma campanha prometia varrer do país a ameaça vermelha. Lula, o sapo barbudo, era o inimigo dos patriotas e da Rede Globo. O eleito cairia antes de completar três anos no cargo.

Vieram então os tempos de hegemonia dos chamados tucanos, com dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso. Depois de FHC, o que em 1989 era quase uma miragem virou realidade com a chegada de Lula e do PT ao Palácio do Planalto. Mas isso foi um dia desses. Com tantas eleições seguidas, o voto direto hoje parece algo que sempre esteve aí. Mas foi uma dura conquista.

Nenhuma eleição chegou nem perto de tudo o que se vê na disputa atual. Nunca houve um clima de tamanho acirramento – entre candidatos e eleitores. Velhas amizades acabaram até em meio a ameaças. O ambiente de trabalho foi envenenado. Engolidas pelo fanatismo do ódio, famílias estão rachadas, e o ressentimento se instala entre pais e filhos, primos e irmãos. Houve até assassinatos.

Nunca fui engajado. Nunca fui a passeatas em defesa de candidatos a nada. Mas aprendi, não sei quando nem como, a cultivar algumas obsessões. A liberdade plena, sem concessões ou ressalvas, é uma dessas obsessões. Outra é o repúdio a todo tipo de violência. Jamais relativizarei o desprezo ao semelhante e a tolerância à tortura, essa prática inominável que nos transforma em selvagens.

Por isso, em nome desses valores inegociáveis, voto em Fernando Haddad.

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