Em relação à polêmica envolvendo um apoiador do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e o ex-reitor da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), professor Clébio Araújo, na noite de ontem (24), o delegado de Arapiraca, Igor Diego, contou à reportagem do CadaMinuto que “não foi constatada nenhuma  agressão ou ameaça, porém foi constatado que servidores públicos estariam se utilizando do espaço público para beneficiar um partido político, o que não é permitido pela lei eleitoral”.

O delegado informou ainda, na tarde desta quinta-feira (25), que “todos os laudos e documentos produzidos durante os depoimentos dos envolvidos foram encaminhados para a Justiça Eleitoral e para o Ministério Público Eleitoral em Arapiraca”.

O ex-reitor e o homem que tentava filmar o ato intitulado “Em defesa da Universidade e da democracia”, foram ouvidos na Delegacia de Arapiraca, após se envolverem em uma discussão de cunho político ocorrida dentro de Campus da Uneal.

Filmagem

Apesar da afirmação do delegado, o ex-reitor reforçou, em vídeos que circulam nas redes sociais, que foi agredido pelo apoiador de Bolsonaro e negou a informação de que estaria ocorrendo um ato político na Uneal. Ele contou que o homem entrou para filmar o evento que, na verdade, era em defesa da Universidade e da democracia.

O ex-reitor frisou que, como dentro da universidade as pessoas têm liberdade para manifestações ideológicas e políticas, alguns dos participantes do encontro estavam com bottons de um candidato.

Clébio relatou que estava sendo filmado de forma intimidatória e questionou o acusado sobre o assunto, que lhe respondeu de forma hostil. O ex-reitor tentou então tirar o celular da mão do rapaz para apagar as imagens e, ao tentar pela segunda vez tirar o aparelho, foi agredido com uma joelhada na virilha.

Foi então que Clébio chamou a Polícia Militar para o local. Ele finalizou informando ainda que na delegacia o suposto agressor foi recepcionado pelo presidente do PSL em Arapiraca, que o teria enviado para filmar o ato.

Semudh

Em nota a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh) caracterizou o episódio de “atentado à democracia”.  Confira abaixo a nota na íntegra.

“A Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Sejmudh) repudia o ato de violência praticado contra o ex-reitor da UNEAL, professor Clébio Correia Araújo, quando participava de um debate nas dependências daquela Universidade, em Arapiraca, na noite de 24 de outubro deste ano. O ato de violência sofrido pelo professor Clébio é um atentado à democracia e um ataque à livre manifestação do pensamento. Precisamos nos indignar e reagir, conforme os preceitos legais, sob pena de permitirmos que as garantias conquistadas por toda a sociedade venham sofrer ataques como o que estamos presenciando.

A SEMUDH se solidariza com o professor Clébio e se coloca à disposição no sentido de contribuir para que essa violência seja devidamente apurada e o seu autor punido nos termos da lei. Ao mesmo tempo em que disponibiliza os contatos pelos telefones 3315-1792 e 98891-0607 para as devidas providências”.

Uneal

Também por meio de nota publicada em seu portal, a Uneal disse que “preza pela manutenção do espaço democrático para os diversos debates de interesse da sociedade”:

“Diante dos fatos ocorridos na noite desta quarta-feira (24), no prédio da Reitoria, em Arapiraca, a Universidade Estadual de Alagoas vem a público esclarecer que, em toda a sua história, sempre prezou por se manter como um espaço democrático para os diversos debates de interesse da sociedade, garantindo a liberdade de a comunidade acadêmica promover eventos que tenham como fim a liberdade de expressão e pensamento.

É importante frisar que, como é de praxe na rotina acadêmica, estava marcado para a noite desta quarta-feira, um ato em defesa da democracia, em virtude dos 30 anos de promulgação da Constituição Federal do Brasil. Neste evento, os organizadores visavam debater avanços e retrocessos das normas previstas na Carta Magna brasileira, defendendo a democracia e a liberdade de expressão. Sendo, esta, portanto, mais uma iniciativa rotineira no âmbito da Universidade. Frisamos que a instituição está aberta para debater quaisquer correntes políticas, desde que respeitados os limites dos direitos individuais e coletivos.

A Uneal repudia qualquer ato que vise somente perturbar o desenvolvimento habitual das atividades acadêmicas, bem como qualquer ação que enseje constrangimento de qualquer indivíduo que ali esteja.

Deste modo, ressalta ainda que não serão tolerados atos de agressão ou de intimação, como o ocorrido nesta data, quando um homem não pertencente à comunidade acadêmica, entrou na Universidade, intimidando professores, estudantes e técnico-administrativos com palavras de baixo calão enquanto gravava a circulação das pessoas, sem nenhuma autorização prévia.

Prestamos solidariedade ao professor Clébio Correia de Araújo que, diante da intimidação promovida pelo suspeito, saiu em defesa da liberdade de expressão e de pensamento da comunidade acadêmica que pacificamente chegava à Uneal para suas atividades”.