A partir dos protestos de rua de junho de 2013, que se espalharam pelo país, foram muitos os casos de agressão física a jornalistas. Profissionais levaram socos, pontapés, pauladas e até bombas. Carros de reportagem foram depredados nos quatro cantos do país. No caso mais grave, o cinegrafista da Band Santiago Andrade foi morto ao ser atingido por um rojão atirado por militantes de esquerda.

Ainda no embalo daquelas manifestações, que continuaram intensas em 2014, sedes de veículos de comunicação sofreram ações violentas, com bombas, invasões e quebradeira de instalações desses ambientes. Na ofensiva geral, à base de pancadaria ou nos insultos verbais, os revoltosos acusavam a imprensa de golpista, fascista e aliada à velha direita que despreza minorias e direitos civis.

O exército que odeia o jornalismo profissional consagrou uma expressão criada pelo esperto Paulo Henrique Amorim, um medalhão que se diz independente, mas serve, com muito gosto, à TV do bispo Edir Macedo. Refiro-me à sigla PIG, (Partido da Imprensa Golpista). Amorim bate na Globo todo dia, mas acha bonito a Record virar cabo eleitoral de Bolsonaro. Salário de marajá não tem ideologia.

Essas ações de ódio à imprensa se explicam, portanto, porque os veículos são todos de direita, reacionários, a serviço das elites predatórias. Não escapa ninguém do veredito mortal. Ostentar um simples crachá do seu local de trabalho era motivo para se tornar alvo da ira dos que lutam contra a “cultura do ódio”. Para combater o que consideram parcialidade das empresas, o remédio é detonar.

Aí surgiram os movimentos da nova direita, cujo representante mais organizado e atuante é o MBL, o Movimento Brasil Livre. Nasceu para enfrentar a hegemonia da esquerda na política e ambientes acadêmicos e intelectuais. No discurso, se dizem liberais e conservadores, defendem a liberdade como valor absoluto na democracia e condenam qualquer restrição à censura ao pensamento.    

Não demorou muito, e a imprensa também entrou na mira dos jovens avançados que invadiram a praia para renovar as práticas da velha política. Hoje, pregam tanto ódio ao jornalismo quanto seus inimigos petistas e comunistas que veneram ditaduras pelo mundo. Montados nesses ideais, MBL e assemelhados declaram guerra à imprensa. É uma frente de luta sem trégua, implacável. 

Um pouco do passado recente. Em seu monumental Diários da Presidência, Fernando Henrique Cardoso destila uma coleção de ressentimentos com a cobertura de seu governo por parte dos grandes meios de comunicação. É especialmente raivoso com a Folha, citando nominalmente vários jornalistas, incluindo o então diretor de redação, Otavio Frias filho. Ele também se acha perseguido.

De volta ao presente. A frase que está no título deste texto é de Jair Bolsonaro. Durante ato de campanha no Rio, ele achou relevante fazer o alerta a seus fiéis seguidores. Sim, não importa o lado, não importa se da extrema esquerda ou da direita extrema, seja lá quem for o político, ninguém tem dúvida quanto ao inimigo a ser trucidado: vamos arrebentar com a imprensa “suja” e “bandida”.

A imprensa tradicional está em decadência? Jornais desativam rotativas e fecham as portas? Jornalistas são demitidos em massa? Aqui os inimigos mortais esquecem as diferenças viscerais e se abraçam no festejo mórbido. Quando esquerda e direita recebem essas notícias, como diria minha amiga Cristina Limeira, esses democratas reagem com uma frase definitiva: “eu acho é tome!”.

Sendo possível falar em alguma satisfação diante desse quadro tenebroso, digo o seguinte: se todos os lados achincalham a imprensa, é porque alguma coisa de urgente e necessária ainda se vê nas páginas dos velhos jornais e revistas. E finalmente, o poder gosta do jornalismo a favor – ou seja, poderosos querem a negação da essência dessa instituição, sem a qual a democracia está morta.