Depois de cada eleição, um dos temas em debate pela imprensa é o índice de renovação no Legislativo. O critério principal para isso, naturalmente, é verificar o número de deputados que conseguiram preservar o mandato; na outra ponta, todos queremos conhecer as novas caras que assumem uma cadeira no parlamento pela primeira vez. Parece simples; mas nem tanto.

A troca de nomes não significa o avanço automático das ideias. Vejam a lista dos 27 eleitos para a Assembleia Legislativa de Alagoas. O que mais se vê ali é filhote da cacicada que manda e desmanda no estado, desde que Marechal Deodoro era a capital. Eu escrevi filhote, mas também há pai, mãe, irmão, tio, sobrinho, parentes e aderentes, numa lista infernal a serviço das oligarquias.

Quando a gente percorre os sobrenomes e a trajetória de praticamente todos os parlamentares, vamos combinar, a imagem é de terra arrasada. Daquele emaranhado de carreiristas da política profissional não há chance de sair algo em nome da população. É um reality show tão proveitoso à sociedade como o BBB ou A Fazenda. A Assembleia que saiu das urnas honra as tradições.

Da nova formação, que toma posse em 2019, nem sei o que é mais desolador – se a perpetuação da velharada ou a turma de estreantes, os arrumadinhos com maquiagem de modernosos, mas tão reacionários quanto seus ancestrais. No bloco dos “novatos”, há herdeiros de todas as paisagens alagoanas, do sertão à capital. Pelo histórico desses eleitos, renovação pra valer já era.

Dos 27 eleitos, 12 estão chegando à Assembleia pela primeira vez. Querem vender a ideia de que representam um sopro de mudança na casa. Pois eu digo, com a mais absoluta das certezas, que essa dúzia de neófitos chega prontinha para repetir o padrão ali consagrado: conchavos, abuso com o dinheiro púbico e projetos de lei casuísticos. Essa é a mais fácil das previsões que já fiz na vida.

Não vamos aqui forçar a barra e dizer que tal situação revela uma qualidade exclusiva das Alagoas. Brasil afora o nível é daí pra baixo. O Rio de Janeiro, por exemplo – para lembrar de um estado “rico e desenvolvido” –, tem uma Assembleia loteada por traficantes e milicianos. Por aqui, além da vasta mediocridade, nosso parlamento sempre foi chegado a valentões adeptos da lei da pistola.

Como tudo isso se cristalizou na vida brasileira? Uma das explicações está no sistema eleitoral, ajeitado para facilitar o ingresso de malandros de toda ordem. Quando temos um nome fora dos padrões, eleito com votação acima dos caciques, a explicação é simples: é mais um do tipo palhaço, a vitória do grotesco, como um Tiririca da vida. Nada que ameace o bando eternamente no poder.

Mas isso é democracia. Ao contrário de certas autoridades que se vendem como caçadores de corruptos enquanto tentam uma boquinha em qualquer governo, defendo o voto e o pleno exercício da política. Sim, afinal é o que está nas regras do jogo, é o que diz nossa Constituição.

Se os políticos aprontam de tudo, igualmente grave é promotor e juiz querendo o poder à base da carteirada, ou, para ser mais preciso, à base de porrete. Não será trocando o sujo pelo troglodita engomadinho que as coisas vão melhorar. Mas eu falava da Assembleia. Quer dizer, terminei.