A engenharia ética de um magistrado

13/10/2018 23:50 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A eleição para governador do Rio de Janeiro produziu mais um desses casos de ascensão fulminante que sai das urnas. Trata-se do ex-juiz Wilson Witzel, que vai disputar o segundo turno com o ex-prefeito Eduardo Paes. O homem que veio daquele planeta paralelo, no qual os habitantes vestem capa preta e não admitem contestação a suas ideias, jura que é um poço de ética e honestidade. Seu discurso está na moda: vai pegar pesado pra eliminar a corrupção que mata o Brasil.

Mas, como sempre ocorre nessas histórias de santo, Witzel prega uma coisa e faz outra bem diferente de sua pregação. Bastou o jornalismo olhar mais atentamente para a trajetória do mais novo valentão na praça, que a realidade apareceu. Durante sua brilhante carreira na magistratura, o exemplar juiz cansou de receber salário bem acima do teto constitucional. O teto está na casa de 33 mil reais. O doutor chegou a receber, num mês, pagamento superior a 76 mil reais. Tudo na ética!  

O dedicado servidor do Poder Judiciário também recebia auxílio-moradia e outros penduricalhos que engrossavam, e muito, sua remuneração. E claro que tem aquele detalhe, quase uma besteira, que torna tudo ainda mais bonito na postura do juiz aposentado. Ele embolsava a ajuda para pagar sua casinha, mesmo tendo residência própria. Eu tenho certeza que meter a mão nessa grana – ainda que seja proprietário de imóveis – deve ser um pré-requisito para se exercer o posto de magistrado.

Não estou exagerando. Vejam apenas mais três exemplos: Sergio Moro, Marcelo Bretas e Deltan Dallagnol. Os dois primeiros são juízes celebridades da Lava Jato. O terceiro é aquele mocinho “de bochechas rosadas” que usa “óculos de aro fino”, da turma de aloprados do Ministério Público Federal. Ora, se o trio de ouro do combate aos malfeitores na esfera pública age com essa desenvoltura, fico imaginando o que fazem seus coleguinhas que também lutam por justiça no país.

Agora, o jornal O Globo acaba de descobrir um vídeo desconcertante com o juiz candidato no Rio. Antes de mudar de profissão, falando para seus pares togados, Witzel explica, didática e descaradamente, como se faz para receber gratificações, os tais penduricalhos. Vejam lá no site do jornal. O sujeito faz piada ao contar a “engenharia” que garante a grana a que não teria direito.

São esses os heróis que estão chegando para salvar o Brasil dos “políticos profissionais”. É gente assim que se abraçou ao candidato Bolsonaro para tirar o Brasil da lama e nos conduzir a um tempo de decência. Só faltou combinar com a realidade dos fatos. Sendo o juiz Witzel a ilustração de mudança na política brasileira, é mais prudente não descartar a velha guarda. O novo é uma piada.

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