Artistas contra Bolsonaro

10/10/2018 17:40 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Roger Waters, dinossauro canonizado na Igreja do Rock, percorre o Brasil apresentando um novo show para seguidores fiéis. No repertório, é claro que desfilam supostos clássicos do Pink Floyd, a banda que Waters ajudou a glorificar. No palco, durante a apresentação em São Paulo, na noite desta terça-feira, o roqueiro tomou um susto: após protestar contra Jair Bolsonaro, ele foi vaiado e xingado.

Segundo leio na imprensa, um telão exibiu em letras garrafais a mensagem #EleNão. Foi o suficiente para um coro de 40 mil vozes vaiar o astro internacional. Os poucos aplausos foram abafados pela gritaria raivosa que tomou conta do estádio. Atônito, o cantor chegou a dizer que não sabe ao certo o que se passa hoje no Brasil. Tentou amenizar o clima, mas o pessoal seguiu abusado.

O episódio com o roqueiro do Pink Floyd não é um caso isolado quando pensamos nessa relação delicada entre artista e política. Ele é um militante com atuação planetária. Usa seu prestígio, decorrente da arte que produz, para atacar regimes vistos como antidemocráticos. Não é um caso isolado, eu escrevi, porque o engajamento político de artistas existe desde os primeiros acordes.

Vocês devem ter lido sobre a troca de farpas entre nomes como Daniela Mercury, Anitta, Marília Mendonça, Preta Gil e Regina Duarte. Todas se manifestaram, nas redes sociais, sobre o caso Bolsonaro. A reação de seguidores, em algumas situações, forçou um recuo da celebridade, que pediu desculpas e caiu fora do bate-boca. Sucesso na arte, fracasso na política; é o que parece.

As eleições de 2018, por tudo o que ocorreu nos últimos quatro anos, também envolveram em cores mais exaltadas os atores, menores ou maiores, da cultura e da arte. Na esfera do pensamento, tal como na esquina e no boteco, o debate pode tranquilamente descambar para socos e pontapés.

O artista tem o direito de expressar o que pensa, denunciar o que acha criminoso, revelar o voto a um candidato. O ponto é: o que o público tem a ver com as preferências ideológicas do seu astro da música, por exemplo? Devo seguir a orientação política de um guru do cinema ou do funk?  

Isso não faz sentido, é claro. Mas o artista como antena do tempo, um visionário até, é ainda hoje uma miragem capaz de sedução e apaziguamento. Talvez por isso, de Roger Waters a Anitta, os ídolos perdem a voz quando, no lugar do caloroso aplauso, saem do palco sob pesadas vaias e insultos.

Existem outros aspectos na questão aqui abordada. Bolsonaro é uma surpresa com muitos lados. Nem falei de Caetano e Gil, nem de atores globais. De todo modo, penso que o mais louco é mesmo essa coisa de um artista como parâmetro político, um ser com respostas para o destino da nação.

E a eleição brasileira vai estremecendo o universo da academia, incluindo a imprensa e universidades estrangeiras. (Hoje sai pesquisa Datafolha, a primeira no segundo turno. Comento mais tarde).

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