Promessas delirantes de candidatos atropelam a lógica e a matemática

04/10/2018 14:15 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Na campanha eleitoral, candidatos conseguem avacalhar tudo – tresloucadamente até quando falam de números, estatísticas e operações matemáticas. Digo que é tresloucado porque seria de se esperar que houvesse algum comedimento na hora de fazer promessas a partir de fatores mais duros, digamos assim, mais próximos das ciências exatas. Mas não. É aí que chutam pra todo lado.

Presidenciáveis anunciam a construção de milhões de casas, milhares de unidades de saúde, uma infinidade de vagas em escolas e em novas creches. Garantem também levar saneamento a meio mundo de cidades espalhadas por todas as regiões. Os impostos vão desabar, os preços de todos os produtos serão reduzidos – a economia crescerá a níveis extraordinários. A China que se cuide.

Pela proliferação de propostas que mais parecem um conjunto de potenciais milagres, é fácil constatar que ninguém aí dá a mínima para a precisão, para o respeito aos dados concretos da realidade. O que interessa é emplacar a lorota, mesmo que não haja um pingo de lógica a sustentar o que se vende à população. Desse jeito, a fraude começa antes mesmo do possível mandato.

A novidade desta eleição no campo das ideias mirabolantes – ideias que desafiam a matemática e a razão – partiu de Ciro Gomes. Ele atravessou toda a campanha tentando emplacar o projeto de tirar milhões de brasileiros do famoso SPC. Economistas de todas as tendências bateram duro na iniciativa; não porque sejam contra, mas porque o candidato não conseguiu explicar como seria isso.

Um dos casos mais loucos nesse vale-tudo com a lógica fria da Estatística está no discurso de combate ao desemprego. Nos debates e na propaganda, cada candidato dispara um número de desempregados. Para uns, são 12 milhões; outros falam em 13 milhões. Há os que citem 14 milhões de brasileiros sem trabalho. E houve quem tenha sido mais “preciso”: são 13 milhões e 700 mil.

Cifras, números, percentuais. Não deixem um candidato livre no meio desse universo. O resultado será o extermínio dos mais elementares princípios do bom senso. Em promessa eleitoral, a soma de 2+2 é um caleidoscópio infinito, aberto a delírios oportunistas de quem faz tudo por um voto.        

Mudando de assunto. Hoje acaba o brasileiríssimo Guia Eleitoral no rádio e na TV. O balanço é horroroso. Nova pesquisa Datafolha é esperada também para esta quinta-feira. E à noite tem o debate entre os presidenciáveis na Globo. Sobre tudo isso, perturbarei o leitor por aqui. Até já.

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