A eleição em Alagoas está na primeira página da Folha de S. Paulo desta segunda-feira. O jornal chama atenção para o tamanho da coligação que apoia o governador Renan Filho, que tenta renovar o mandato. Ele conseguiu reunir nada menos que 19 partidos na aliança que vai enfrentar o senador Fernando Collor, seu principal adversário na disputa. Collor tem o apoio de oito legendas.

É muito partido. Ao lado de Renanzinho estão forças aparentemente opostas no campo ideológico – se isso existisse de fato no Brasil. Estão com o atual governador, por exemplo, siglas como PR e o Solidariedade, que convivem pacificamente com PC do B e PT. (E ainda querem fazer barulho por causa da aliança entre Collor e o PSDB do prefeito Rui Palmeira e do ex-governador Téo Vilela).

Outro exemplo de exotismo com a ideologia – mas, de novo, somente na aparência – ocorre no Maranhão. Lá o comunista Flávio Dino, que busca a reeleição, conta com 16 partidos em sua campanha, entre eles PT e DEM, num casamento que é a cara da política brasileira. Ou seja, após o impeachment de Dilma, bastou uma eleição para golpistas e lulistas se abraçarem na gandaia.

O panorama é assim por todo o país. Dos pampas aos seringais, como diria o tropicalista, a esculhambação do sistema político-partidário mostra sua caveira. A explosão de agremiações, com receitas sensacionais para a vida nacional, é ao mesmo tempo causa e efeito das barbaridades que assolam a rotina do brasileiro. E assim vamos com esse padrão para mais uma aventura eleitoral.

Participam das eleições, agora em 2018, 35 siglas. A maioria, como se sabe desde antigamente, veio ao mundo para mamar no dinheiro público, com repasses milionários a partir do tal fundo partidário. Lembra da expressão, também antiga, “legendas de aluguel”? É disso que se trata. Ao contrário das oscilações no setor imobiliário, aqui há sempre inquilinos e corretores fechando negócio.

A coisa não vai ficar por aí, não. Em janeiro deste ano, o Tribunal Superior Eleitoral informou que, além dos atuais 35 no feirão partidário, há simplesmente 73 novos partidos na fila para oficializar o registro. Sim, você leu certo: daqui a pouco teremos mais de 100 legendas pedindo voto na praça.

Vejam como anda a criatividade de patriotas dispostos a trabalhar duro pelo Brasil. Estão chegando por aí, entre tantos, o Partido das Sete Causas (PSETE), o Igualdade (IDE) e o Muda Brasil (MD). Eu imagino que, com o mundo plural e cheio de ideias, o número de ideologias cresce sem fim.

Num cenário estupidamente fragmentado como este, não passa de piada a conversa de reforma política, para reduzir a quantidade dessas quadrilhas. Talvez um dia isso até venha a ocorrer, mas certamente terá como motivação o consagrado “instinto de sobrevivência” dos donos do poder.

“É só fuxico. É só conchavo. É só rasteira”. Um dia desses, o presidenciável Ciro Gomes recorreu a esse trio de substantivos para acusar o que chamou de falta de escrúpulos na seara política. Se já é assim com 35 legendas, pense como será no futuro próximo. É por isso que sou um otimista.