As empresas de ônibus que fazem o transporte coletivo em Maceió despejaram hoje um coquetel de números e cifras, para acusar a concorrência desleal do serviço clandestino, realizado, na maioria dos casos, por taxistas devidamente credenciados pela prefeitura. É claro que o objetivo é pintar um panorama alarmista e, com isso, justificar a baixa qualidade no desempenho dessas empresas.

As informações dos empresários estão publicadas em todos os sites de Alagoas, e o leitor pode conferir tudo aqui no CADAMINUTO. Eles alegam que a cidade está tomada por veículos que operam a chamada “lotação”, o que faz com que o setor tenha prejuízo com a queda no número de passageiros. É uma forma de pressionar os gestores municipais, quase uma chantagem à luz do sol.

Afirma o Sindicato das Empresas de Transporte Urbano de Passageiros que os condutores irregulares carregam 3 mil pessoas por dia na capital, 90 mil por mês, com faturamento de 3,6 milhões de reais por ano. Nossa, que tragédia! Não devemos esquecer que esse levantamento todo não é oficial, uma vez que foi feito por uma entidade privada, sem o crivo de qualquer esfera pública.

Já o faturamento e a tal planilha de custos dessas empresas são – e sempre foram – um mistério mais profundo que a existência do sobrenatural. Não por acaso, o impasse sobre o preço da tarifa costuma bater na justiça com uma frequência quase corriqueira. Não lembro, ao longo das últimas décadas, quando foi que esse segmento andou na linha como deve ser. O histórico não é nada bom.

Devemos lembrar também que o contrato de concessão do transporte coletivo está sob intervenção da prefeitura, depois que a medida foi recomendada pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público de Contas. A decisão decorre das falhas na prestação do serviço, o que significa descumprimento dos termos do contrato. É por isso que as empresas estão fazendo zoada.

Durante anos e anos, é fato consumado, o setor se meteu na política, com o financiamento de campanhas – o que piora muito as coisas. Pelo que sei, a atual gestão na prefeitura decidiu espanar uma relação que sempre foi pra lá de obscura. Não é fácil. É o que explica a intervenção em vigor. As peripécias pela catraca são tão antigas quanto o cadeado da caixa-preta nas contas das empresas.

Pelo conjunto da obra, a gritaria dos donos das linhas de ônibus não me comove nem um pouco – nem me convence sobre suas boas intenções e o padrão do serviço que oferecem. Dito isto, vou ali no centro de Maceió, a bordo de um táxi-lotação. Sou velho conhecido dos camaradas do volante.