Para ajudar minha cabeça na reflexão sobre a situação do país, e quem sabe achar alguma pauta para o blog, fui ali na esquina tomar um caldo de cana na Lanchonete da Zezé. É sempre bom dar um tempo no consumo de coisas mais pesadas – como o noticiário. Quando parei na calçada com o carrinho e o maquinário que espreme a cana, Seu Antônio, outro comerciante, estava chateado.
Ele narrava, entre o vai e vem de clientes que frequenta seu mercadinho, que o gás de cozinha de sua casa acabou. E, para piorar a situação, Dona Vânia, que comercializa o produto bem na outra esquina, estava com o estoque zerado. Não demorou para que um vizinho informasse a ele o número de telefone de um ponto de venda que, segundo soube, ainda está bem abastecido.
Seu Antônio sacou o celular decidido a pedir um botijão e garantir o preparo do café. Mas não esperava ouvir a proposta absurda do outro lado. O diálogo foi tenso. Ele ainda tentou argumentar com o atendente, mas não teve jeito. A cada resposta que ouvia, ficava mais irritado com a conversa. Vou reproduzir, de memória, a cena protagonizada por meu vizinho, na vã tentativa de obter o gás.
“Alô! Tem gás aí pra vender? Rapaz, que bom. Eu vou querer um botijão, aqui no conjunto. Tá quanto o botijão? Quanto?! 80 reais! Que é isso meu amigo? Esse que acabou eu comprei a 60. Baixa isso aí, meu amigo, assim é exploração. Não, não, 80 reais é demais. Deixe pra lá. Vou querer não”.
Encerrada a frustrante negociação, alguém apresentou mais um número de telefone. Mais uma alternativa. Seu Antônio repetiu a dose, mas recebeu a mesma pancada, com um agravante. Pela distância (esse endereço era mais longe), o produto não seria entregue por menos de 85 reais.
Meu vizinho explicou às testemunhas que jamais se submeteria ao repentino e absurdo índice inflacionário do gás de cozinha. Perguntei como ia fazer no jantar. “Esquento água no micro-ondas e uso Nescafé. Pra comer, faço tapioca na grelha elétrica. E amanhã vejo como é que resolvo”.
A vida real num bairro qualquer de Maceió. Os caras reajustaram o gás em pelo menos 20 reais. Isso se você encontrar o produto para comprar. A gasolina já voltou aos postos, mas o combustível para o fogão ainda não. (Tomei o caldo de cana e voltei pra casa. Terminei achando uma pauta).