Política, um caso de vida ou morte

12/05/2018 23:28 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O seu corpo é uma dimensão da política. Os seus afetos só fazem sentido se você entender o quanto estão mediados por uma visão política. Suas relações pessoais, com os amigos e a família, refletem o peso da política. Sem consciência da política, sua intimidade será um imenso vazio. O amor é uma manifestação essencialmente política. Em resumo, sem política sua vida é a perdição.

 

Eu penso muita besteira. Mas a conversa fiada que você acaba de ler no parágrafo acima nunca fez parte da minha coleção particular de tolices. As ideias aí acima tomaram conta de todas as tribos e indivíduos. Engajados e descolados, caretas e modernosos, conservadores e liberais, reacionários e progressistas, esquerda e direita, Tom e Jerry – todos adoram exaltar a política como oxigênio de nossa existência. A chatice adicional é aguentar os argumentos dos que tentam nos convencer.

 

Os que menos têm condições de nos arrastar para essa ladainha são justamente os políticos. O que todos eles querem, naturalmente, é o voto do eleitor. Logo, o palavrório desses senhores que reivindicam seu interesse pela política mira exclusivamente o caminho das urnas. Mal comparando, jamais espere o delírio de um açougueiro na defesa da filosofia vegana.  

 

Mas, para além dos representantes do povo, a defesa apaixonada de uma vida respirando política 24 horas por dia é um equívoco planetário. E, a essa altura, nem adianta argumentar que a coisa não é bem assim. Quem o fizer, será alvo de um coquetel mortífero de acusações. “Alienado” será o ataque mais leve sobre o infeliz que ouse desdenhar dessa crença de proporções universais. É o que faço.

 

Acho que já escrevi aqui o quanto considero uma insanidade a bagaceira instalada até entre grandes amigos por causa de discussões sobre política. É uma armadilha letal. É um despropósito, uma visão de mundo sem qualquer lógica. Viver com isso como princípio absoluto, me parece, é apenas aderir ao senso comum. E se há algo tão grandioso assim, definitivamente nunca será a política.

 

Defender ideias, pensar na cidade e no país, dar o seu voto a um candidato que lhe parece confiável – está tudo certo com isso. Ocorre que esses gestos estão circunscritos à esfera das demandas coletivas, ainda que relevantes. Mas não podem ser confundidos com a essência das relações humanas. O essencial: quem fala, age, sente e decide é o indivíduo, uma pessoa concreta.

 

Eu sei que é mais romântico – e respeitável, para muitos – pregar a utopia, a transformação, a beleza da crença no engajamento político. Talvez por algum defeito de fabricação, escapei dessa. Melhor assim. Não fiz amizades – e nem desfiz – movido por preferências partidárias ou ideológicas. Mas não ficarei ensandecido com sua eventual discordância furiosa. Por mim, a gente pode conversar.

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