Prédios em ruína: Cultura e Educação

06/05/2018 02:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

É sempre assim. No dia seguinte ao acidente, a imprensa deflagra uma verdadeira devassa para apontar todas as situações com potencial de repetir a tragédia da vez. Tão eloquente quanto o repentino trabalho investigativo do jornalismo será a iniciativa das autoridades para tomar providências. O caso do momento ocorreu em São Paulo. Depois que o prédio ocupado por famílias de sem-teto desabou, todo mundo despertou para o perigo mortal dos imóveis abandonados.

 

Como era previsível, também em Alagoas essa síndrome de resolver as coisas após uma tragédia já se manifestou. Noticia-se que o Ministério Púbico Estadual pretende fazer um levantamento de construções públicas sem uso ou invadidas por pessoas que não têm moradia. A partir desses dados, será cobrada uma solução – que pode ser até a demolição, no caso de haver risco de acidente semelhante ao de São Paulo. Por que somente agora o pessoal do MP resolveu acordar?

 

Até parece que ninguém anda por aí, vendo as ruas e a arquitetura pelo Centro de Maceió, por exemplo. Ali o que mais tem é prédio público abandonado. Tem um bocado de imóvel particular também. Um breve passeio revela uma quantidade quase inacreditável de endereços fechados e caindo aos pedaços. Há exemplos dos mais variados tipos arquitetônicos. Mas essa realidade não é nada recente, pelo contrário. E ninguém havia percebido problema nenhum até alguns dias atrás.  

 

Lamento, mas a grande preocupação que surge agora não passa de oportunismo. Pensando em Maceió, estamos longe de ter um projeto sério para a cidade, coisa que aliás nunca tivemos. Plano diretor e planejamento urbano existem no papel, e olhe lá. Uma mobilização intempestiva tem tudo para gerar discursos e soluções de fachada para problemas complexos. Agir sob pressão dos fatos e da opinião pública, aliás, é um verdadeiro clássico no campo da política. Nunca termina bem.

 

Um dos prédios públicos abandonados no centro da capital é um emblema da política alagoana. E diz muito da miséria moral e intelectual daqueles que têm o poder por aqui. Dá um estudo de caso, uma tese acadêmica. Refiro-me à antiga sede da Secretaria Estadual de Educação. Foi fechada em 2012 com a promessa de que passaria por uma bela reforma. E está lá, um crime a céu aberto, cometido por saqueadores do patrimônio do povo. Uma área gigantesca que virou depósito de lixo.

 

Outro exemplo com a mesma carga simbólica está na Rua Pedro Monteiro, também no Centro. É o imóvel que serviu de sede, vejam só, para a Secretaria Estadual de Cultura. Já abrigou a rádio estadual e um teatro. Na aparência, está desmoronando. Enquanto isso, brinca-se de eleger bloco de carnaval de uma patota de amigos como patrimônio cultural de Alagoas. Não. Educação e cultura, aqui no estado, acabam é assim, sob a poeira e os escombros de prédios desprezados.

 

Mas vamos ver. Estou curioso pelo trabalho que está prestes a começar a partir de uma força-tarefa que envolverá diferentes órgãos e instituições. Como sempre, políticos, autoridades e especialistas já andam por aí cheios de ideias para nos salvar de algum desabamento iminente. Como sabemos, será um trabalho sério, vigoroso e eficiente. Em breve, poderemos constatar o grandioso resultado.

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