Duas frases não saem da cabeça de Rossana Rodrigues, 49, desde que seu filho Douglas morreu aos 17 anos, assassinado por um policial militar que disse que a arma disparou sozinha.
A primeira é a que Douglas falou ao receber o disparo: “Por que o senhor atirou em mim?” A indagação está no muro da casa da costureira, na zona norte, e nas camisetas que ela usa dia e noite desde o episódio, há quatro anos. Sua gaveta tem mais de dez modelos da vestimenta.
A segunda frase é a última que ela ouviu do filho: “trabalhei a semana inteira, deixa eu me divertir”. Além de estudar, Douglas trabalhava durante a semana e entregava pizza sábado à noite. Morreu em um raro período de descanso.
“Quando ele partiu, me senti culpada de não ter deixado ele se divertir mais”, diz Rossana. Por isso, com seu outro filho, hoje de 17 anos, resolveu ser mais flexível com horários, com uma precaução. Acompanha ele e seu grupo de amigos noite adentro.
A caçula de nove anos também vive com ela. Outro dia, a garota perguntou, ao ver uma viatura: “eles vão matar a gente também, mãe?”
O caso de Douglas foi concluído em 2016, com o autor do tiro absolvido. Ele já havia sido demitido da PM em 2014. A Justiça aceitou a versão de que o tiro foi acidental, após um especialista afirmar que a arma pode disparar sem que o gatilho seja pressionado.
Rossana decidiu processar a fabricante da arma. “Se a empresa provar que a arma não tem esse defeito, vão ter que reabrir o caso do Douglas.”
Fonte:https://www.geledes.org.br/de-trans-donas-de-casa-mulheres-expiam-em-grupo-dor-da-violencia/