Presidenciáveis no mundo da ficção

21/04/2018 00:05 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Todos os dias, em alguma capital do país, algum evento reúne candidatos a presidente para falar sobre temas que supostamente interessam à sociedade brasileira. Quase sempre, são encontros organizados por meios de comunicação, com patrocínio de grandes empresas. Pode ser um banco, uma rede de supermercados ou uma dessas consultorias que trabalham para especuladores no mercado financeiro. O formato varia, mas em geral o ponto forte é a palestra dos convidados.

 

Nem vou aqui levantar suspeitas sobre os interesses dos patrocinadores. Digamos que é do jogo. Os empresários querem conhecer com mais clareza as ideias daqueles que pretendem chegar ao comando do país. Amanhã, um dos palestrantes de ocasião pode ser o novo presidente da República. E, nesta condição, tomará decisões que inevitavelmente influenciarão nos negócios de toda a economia, seja lá qual for o ramo de cada empresa. Melhor estar bem-informado sobre o futuro.

 

O que é particularmente nebuloso nesses convescotes são os discursos dos políticos candidatos. Já devidamente orientados pelo talento congênito de marqueteiros, e de olho no voto e no apoio dos donos do dinheiro, os convidados falam de tudo como se fossem cordeirinhos, quase santos. A receita, seguida à risca, é não assustar o mercado. Para isso, nada de radicalismo no campo dos costumes, muito menos visões heterodoxas sobre finanças. Equilíbrio é a palavra mágica.

 

É aí que mergulhamos no mundo das contradições e das ambiguidades. Marina Silva harmoniza as demandas dos povos da floresta e os lucros do Itaú. Ciro Gomes, que já ameaçou dar tiro em Sergio Moro, professa o Estado moderno e civilizado. A latrina mental de Jair Bolsonaro, que despreza negros e mulheres, venera os direitos universais do cidadão. Geraldo Alckmin, que acusa o petismo de inventar o bolsa-esmola, ampliará todos os programas sociais – e mais o que houver.

 

É o planeta dos romances de aventura e da ficção científica – com enredos de péssima qualidade. Ninguém é da direita ou da esquerda, muito menos dos extremos dessas ideologias. Para toda e qualquer pergunta, os concorrentes respondem com a mesma convicção, ou seja, sem convicção nenhuma. Não me comprometam, poderiam dizer todos eles. Não deixa de ser elucidativo.

 

Você pode pensar mais ou menos o seguinte: palanque é uma coisa, mesa redonda com os poderosos é outra. Ou a construção pode ser assim: rezar na cartilha dos donos da vida e da morte é uma coisa, contar lorotas na campanha para a gentalha é outra bem diferente. É do jogo?

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