A imprensa grita – e o TSE recua

12/03/2018 14:03 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral não resistiu a 24 horas de noticiário e editoriais nos grandes veículos da imprensa. Como você sabe, o TSE revogou a resolução que restringia o alcance das perguntas nas pesquisas de intenção de voto. Foi uma grita geral. A Folha chamou a iniciativa do TSE de obscurantista. Entidades que representam a imprensa e os meios de comunicação apontaram ameaça à liberdade de expressão. Em dois tempos, o tribunal anulou sua própria medida.

 

No mérito, a resolução que tentava regular o conteúdo das questões na pesquisa eleitoral não parecia mesmo boa coisa. Segundo as normas já anuladas, o instituto não poderia perguntar nada ao eleitor que não fosse exclusivamente sobre a eleição e o voto. Avaliação de governo, por exemplo, não poderia ser tema de questionário aplicado ao entrevistado. Além do mais, seria outra novidade, e com alguma influência, com a campanha praticamente chegando às ruas.    

 

O que chama atenção, entretanto, nesse eloquente recuo do TSE, é precisamente a relação entre a imprensa e as instituições no topo da República. Foi unânime, na Corte eleitoral, a decisão que jogou no lixo as ideias que uma semana antes entravam em vigor. Todos os ministros concordaram ter sido um erro, ou pelo menos um equívoco, a tentativa de uma regulação emergencial sobre a aplicação de pesquisas com o eleitor brasileiro. Após a lambança no tribunal, fica tudo como era até então.

 

Já escrevi que o TSE tem no comando o exótico ministro Luiz Fux. Esse episódio – revelador – foi seu primeiro exotismo, com poucos dias no cargo. Ao se pronunciar na sessão que derrubou a resolução do próprio TSE, Fux disse que era legítima a preocupação dos meios de comunicação. E que preferia suspender as medidas – para “conversar com mais vagar” sobre o tema. Nada mais evidente do quanto é estreita – e delicada – a margem de contato entre judiciário e jornalismo.

 

Com a campanha dominada pelas incontroláveis redes sociais, a onda de combate a trapaças disfarçadas de notícia tem tudo para gerar novos conflitos no âmbito das liberdades individuais. Como se vê, o TSE não demorou a aprontar confusão, antes mesmo da oficialização das candidaturas presidenciais. O vexame público pode ter ensinado boa lição no tribunal. Veremos.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..