Quando a publicidade oficial não passa de puro estelionato

05/03/2018 22:47 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A lei proíbe a propaganda antecipada de quem deseja ser candidato em eleições no Brasil. Em caso de violação dessa regra, a candidatura pode ser cassada. É justo. E, que eu saiba, ninguém contesta que assim seja. Pensando nisso, acho que uma lei semelhante deveria impedir que gestores públicos – presidente, prefeitos e governadores – praticassem essa farra de publicidade sobre obras que, muitas vezes, não passam de esboço em maquetes virtuais. Daria uma boa economia de gastos.

 

Entre incontáveis exemplos dessa tradição bizarra, vejam o caso da duplicação da BR-101. O projeto foi lançado há mais de uma década – e ainda não está completo, como se pode ver no percurso alagoano da rodovia. Mas, se a obra está inacabada há dez anos, dinheiro para publicidade nunca faltou durante todo esse período. Quanto terá sido torrado para fazer carnaval em cima de algo que simplesmente ainda não existe? Não vejo explicação lógica e aceitável para isso.

 

Outros casos. Como ocorre no país inteiro, governo de Alagoas e prefeitura de Maceió são pródigos em vender incríveis realizações – projetadas, mas não concretizadas. Hospitais, viadutos, revitalização de orla lagunar e até um marco para o turismo na capital, todo esse pacote aparece, ou já apareceu, em farta divulgação. E, como em outras situações, nenhum desses projetos que acabo de citar tem previsão de entrega. Enquanto isso, o marketing vai queimando barcas de dinheiro.

 

Portanto, com a mesma lógica da regra eleitoral, que seja vetada a propaganda antecipada de maravilhas que, na vida real, ainda não são visíveis. Feito o anúncio ou a promessa de uma obra, a publicidade somente deveria ser autorizada quando o prometido fosse entregue à população. Além do mais, apresentar ficção como verdade, de olho em dividendos políticos, é praticamente um estelionato. A corriqueira prática também indica pleno desprezo pela ética nesse mundo oficial.

 

Parece uma ideia radical, mas não é. É racional e factível, sem qualquer dificuldade ou prejuízo para a administração do serviço público. Claro que, se depender dos gestores no cargo, isso jamais será adotado. Eles levam ao extremo aquela máxima cretina segundo a qual a enganação – ou seja, a publicidade – é mesmo a alma do negócio. Enquanto isso vigorar, andamos para trás.

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