O inútil Ministério da Segurança
Conta o folclore – amplamente conhecido e renovado na esfera pública – que a principal providência para solucionar um problema é nomear uma comissão. Igualmente relevante é o segundo passo: marcar uma reunião com todos os envolvidos na crise. Do encontro emergencial, finalmente, vai-se ao terceiro degrau para avançar nas soluções: a pauta e a data da reunião seguinte. E assim vai. É mais ou menos isso o que ocorre com a criação do Ministério da Segurança Pública.
Além desse aspecto operacional, digamos assim, tem ainda o alcance político de tal iniciativa, a poucos meses das eleições gerais. Tanto na variável política quanto na ação formal de governo, o movimento expõe métodos amadores e acena com intenções suspeitas. Criar um ministério a essa altura é apostar numa velha ideia que não avança um centímetro sobre os pontos cruciais do combate à violência. A nova pasta foi cogitada há uns vinte anos, durante o governo FHC.
Mas, depois da intervenção, o presidente Michel Temer parece ter se empolgado com a agenda que prioriza o tema da segurança pública. Um ministério, nesse sentido, serve a contento, se o nosso Vampirão pretende uma boia para respirar alguns pontinhos ao menos na faixa do “regular”. Até agora a rejeição é quase absoluta. Com esse objetivo marqueteiro em escala obsessiva, os mais céticos podem dizer que não há perigo de dar certo. E é fácil prever o futuro com a nova repartição.
A primeira coisa que teremos em pleno funcionamento, implacável em seus dogmas e na hostilidade à lógica elementar, é o aparato burocrático. Prova cabal de nossa afeição à autossabotagem, a burocracia é a engrenagem e a alma do erro oficial. Rapidamente qualquer novidade estará em absoluta harmonia com o ritmo próprio da máquina pública. Teremos apenas o que está anunciado desde agora: cabide de emprego e mais espaço para jogadas eleitorais.
Resumindo uma opinião, penso que um novo ministério não resolve nada. Inutilidade. E assim penso, se não por razões especiais, porque talvez esteja entre aqueles mais céticos.
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