A jornalista que enquadrou o prefeito

25/02/2018 17:07 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Começo com um parêntesis. (Já deveria ter escrito sobre isso. Dada a gravidade do caso, falo com atraso. Mas ainda dá tempo). Um jornal traz uma reportagem sobre uma escola pública fechada por falta de condições mínimas para receber alunos e professores. Após a publicação da notícia, o prefeito do município onde fica a escola reage de maneira tão surpreendente quanto estúpida.     

 

A notícia saiu na Tribuna Independente. A autora da reportagem é a jornalista Thayanne Magalhães. O município é Capela, terra dominada até hoje pelos senhores da cana-de-açúcar. E o prefeito se chama Adelmo Moreira Calheiros, herdeiro de gloriosas tradições naquela parte da Zona da Mata. Na eleição, para a urna eletrônica ele usa o nome de guerra, no diminutivo. Vira o Adelminho.

 

Insatisfeito com a publicação dos fatos sobre a escola, o prefeito partiu para um ataque inusitado, embora tipicamente atual: Adelminho enviou para a repórter uma mensagem ofensiva por celular. Revelado pela própria vítima do ataque, o teor das palavras do prefeito varia entre o descabido, a grosseria e a intimidação. É algo indefensável sob qualquer ponto de vista.

 

Na mensagem de resposta ao prefeito, e nas providências que tomou em seguida, incluindo denúncia à polícia, a jornalista agiu de modo exemplar. Às baboseiras mal escritas pelo gestor municipal, ela reagiu com seriedade, num recado que deixa claro o repúdio à postura de seu interlocutor sem noção. Aliás, bota falta de noção na cabeça de um homem público!

 

Adelmo Moreira faz 40 anos em abril. Não é mais um adolescente desses que escrevem coisas infantis por impulso incontrolável. Se age assim, é por outras razões. Trata-se de alguém que nasceu para a política profissional – com ou sem mandato. Descendente legítimo da Era dos Engenhos, parece ter levado ao exercício da política os princípios gerais da oligarquia canavieira.

 

O caso está sendo acompanhado pela Federação de Jornalistas e pelo sindicato da categoria. No mais, é prestar apoio e solidariedade a uma profissional que, reitero, portou-se de forma irretocável. Por isso mesmo, sua conduta serve de referência para o público em geral e, em particular, aos coleguinhas de profissão. Thayanne Magalhães nos mostra como é que se faz a coisa certa.

 

Resumo: no episódio todo, perde o autoritarismo medieval, exposto em seu natural ridículo, e ganha o exercício da imprensa livre. Afinal, liberdade de expressão é oxigênio para a convivência civilizada, esfera em que a censura e a truculência não podem prosperar.

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