A intervenção no Rio, Temer candidato e intelectuais contra o povo

24/02/2018 19:34 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Não é exatamente como está no samba. Ainda não deram vez ao morro e, quando isso ocorrer, ninguém pode garantir que toda a cidade vai mesmo sambar. Por enquanto é só a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. De fato, a decisão do presidente Michel Temer desbancou todos os demais assuntos entre as notícias de maior repercussão.

 

Não se fala de outra coisa por todas as esquinas da imprensa e nas arenas virtuais que mobilizam desmiolados em geral. No meio do tiroteio verbal, com balas achadas e perdidas em todas as direções, claro que a demagogia e o interesse político-partidário determinam o nível dos debates. Temer é acusado de jogada de marketing de olho até numa eventual candidatura à reeleição.

 

Quanto aos efeitos práticos da medida, o que temos é uma coleção de chutes a partir de visões que combinam simpatias ideológicas e demandas imediatas. Vampirão do carnaval na Sapucaí, o presidente agora é atacado por supostamente dar seguimento ao “golpe” que tirou Dilma da Presidência. É um ponto de vista previsível diante do estado de coisas.

 

O problema é que essa postura – que se recusa a aceitar a intervenção – não tem a fórmula mágica para alterar a realidade concreta. Enquanto se avolumam os discursos de indignados com o presidente, o Exército ocupa os bairros, revista moradores e aponta as armas para as favelas. Além do mais, o recurso extraordinário está em vigor já com a aprovação do Congresso.

 

Encrenca das grandes para os inimigos da intervenção é a opinião popular. Pelo que leio, nas alamedas e cruzamentos cariocas não se encontra uma alma que rejeite a operação militar. Aliás, a oposição entre o povo e aqueles que dizem falar em seu nome é um fenômeno clássico na história da humanidade. Nessas horas, vê-se como intelectuais orgânicos falam só para suas igrejinhas.

 

Não haverá milagres, é certo. Daqui a alguns meses não teremos o Rio transformado num paraíso, livre de bandidos, sem assaltos e homicídios. Mas a população tende a respirar, por efeito psicológico, mais aliviada diante da presença ostensiva das forças policiais. É a tal da sensação de segurança – que deve voltar justamente em decorrência do aparato levado às ruas.

 

Sobre Michel Temer sair candidato no embalo de algum sucesso da intervenção, parece de fato a mais tresloucada das ideias. Mas é claro que nada pode ser descartado na política, ainda mais no ambiente de terra arrasada que temos aí. Caso venha a ser candidato, o Vampirão do Sambódromo tem tudo para ser o maior dos rejeitados na hora do voto. Até lá, é se proteger dos tiros.

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