Campanha eleitoral fora de hora

07/02/2018 01:10 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Em ano de Copa do Mundo e eleição, as jogadas ensaiadas começam bem antes do pontapé oficialmente inicial da campanha. Os sinais mais evidentes são outdoors e adesivos de carro que promovem nomes para 2018, sem fazer menção direta ao voto do eleitor – porque isso seria em tese crime por propaganda antes do prazo permitido pela legislação. Todo ano de eleição é a mesma coisa. Como em outras ocasiões, pode haver reclamação junto à Justiça Eleitoral.

 

Esses casos geralmente não resultam em nada, a não ser, no máximo, num pedido de esclarecimento por parte do Ministério Público ou pelo Tribunal Regional Eleitoral. Mas, como disse, a zoada para por aí, sem consequências que ameacem de fato potenciais candidaturas. É um jogo de faz de conta. Eventuais alvos de campanha supostamente ilegal argumentam que as manifestações são “espontâneas”, resultado da “iniciativa de amigos”. Quem vai contestar a nobreza da amizade?

 

É claro que não estamos diante de uma particularidade alagoana. A campanha disfarçada está em todo o país. O pré-histórico Jair Bolsonaro é beneficiado pela desinteressada ação de amigos e pelo trabalho voluntário de simpatizantes de um ideário montado em bizarrices. Seu focinho e seu nome circulam em automóveis e estão em cartazes de variados tamanhos e modelos. Ele certamente é o exemplo maior hoje da estratégia de caça ao voto antes que a bola comece a rolar.

 

Luciano Huck, o pré-candidato Lata Velha, acabou sendo alvo de uma ação por campanha antes da hora. No seu caso, porém, a acusação não se deu em decorrência de inocentes adesivos exaltando suas qualidades de animador de auditório. Ele virou alvo de uma denúncia do PT após falar abertamente como candidato no Domingão do Faustão, ao lado de Angélica, sua parceira nos negócios. O Tribunal Superior Eleitoral pediu explicações a Huck e à Globo sobre a marmota.

 

O episódio global é muito mais grave, por razões óbvias. A emissora fala para milhões e não pode se valer dessa audiência para proselitismo ou para vender seus candidatos prediletos. Foi algo realmente patético e insultuoso. Faustão, Huck e Angélica fazendo comício, no papel de salvadores da pátria, aí já é demais. Seria preciso um novo Dias Gomes – para ficar com artistas da casa – para escrever uma nova peça, uma novela nos moldes de Roque Santeiro ou O Bem-Amado.

 

Fato é que a legislação não ajuda muito. Como se vê em outros temas e códigos, e até com a Constituição, o que se escreve em capítulos, artigos e incisos não encontra correspondência na realidade. Por isso vozes do mundo jurídico defendem uma atualização sobre o período chamado de pré-eleitoral. Enquanto as regras não mudarem, haverá em cada ano de eleição o mesmo tipo de debate sobre o que pode e o que é vetado às virtuais candidaturas.

 

E é por isso também que, num sistema legal um tanto bagunçado, vão predominar cada vez mais fenômenos como a extrema dedicação de amigos em defesa de seus parças candidatos. Difícil...

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