Desembargador acha “muito pouco” o valor da mamata auxílio-moradia

06/02/2018 00:17 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A diversidade de assuntos é um dos princípios obrigatórios na imprensa, a não ser nos casos de publicações especializadas em determinados segmentos. Mais ou menos com essa ideia na cabeça, tento não abusar da paciência do leitor – e da minha também – com a repetição de temas. Mas, em alguns períodos, os acontecimentos nos empurram para uma mesma pauta. Não precisamos ceder, é verdade, mas chega uma hora em que retornar ao ponto é também obrigatório.

 

A posse do novo presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças, é o fato que me faz voltar ao fenômeno indecente conhecido como auxílio-moradia. Sua Excelência foi questionada por jornalistas sobre o assunto. A reação do sujeito é inacreditável. Ele faz piada sobre o privilégio, numa demonstração de cinismo nunca visto até agora. Pereira Calças informa que também recebe a mamata, e ressalta: “Eu acho muito pouco”.

 

Moralmente, o desembargador conseguiu rastejar ainda mais ao afirmar o seguinte: “Tenho vários imóveis, não só um”. Vejam se isso não é um resumo perfeito do que é o Poder Judiciário no Brasil. Tem mais. O homem teve a coragem de criticar a imprensa pelas reportagens sobre os vários casos da farra com o auxílio-moradia. Disse ele: “Tanto o jornalista quanto o juiz tem que ter ética”. Leio tais declarações na imprensa nacional, que cobriu a posse nesta segunda-feira.

 

Pereira Calças é um senhor acima dos 60 anos, de cabelos brancos e uma expressão de soberba. Em sua posse estavam ministros do STF e políticos como o governador Geraldo Alckmin. O novo dono do TJ-SP foi bajulado por todos e tratado como figura exemplar da vida pública; alguém a ser tomado como parâmetro de caráter e probidade. Suas palavras sobre a pilantragem do salário disfarçado provam mesmo que ele é um exemplo seguido à risca por sua patota.  

 

Por que você acha que o desembargador fala tamanhas barbaridades com esse descaramento? Porque ele sabe, ora essa, o poder que tem a turma da qual faz parte. Ele sabe, como eu já escrevi aqui, que o Judiciário habita um planeta paralelo, sem conexão com a vida real dos brasileiros, sem obrigação de prestar contas a ninguém sobre seus atos abusivos e comportamento desprezível. E demonstra também ter certeza de que nada mudará nesse vergonhoso panorama.

 

São os novos heróis do combate à corrupção na política do país. Guarde o nome da peça. Manoel de Queiroz Pereira Calças é o tipo ideal de uma categoria. É também uma evidência eloquente do que há de mais deletério na tal elite brasileira. De uma coisa não podemos ter nenhuma dúvida: na presidência do tribunal paulista, ele está à altura do cargo; e está, portanto, à altura do Judiciário. Aliás, talvez o mais preciso seja dizer que ele está à baixeza de sua casta.

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