Auxílio-moradia: legal e indecente

29/01/2018 17:29 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

O bronzeado juiz Marcelo Bretas é a versão carioca de Sérgio Moro. No Rio de Janeiro, o valentão atua nos casos da Lava Jato. Bisonhamente, também dedica bastante tempo de sua rotina em postagens de autopromoção nas redes sociais. Numa dessas manifestações, fez pose com um fuzil, como se fosse o comandante de uma tropa de elite, pronta para disparar rajadas de bala contra bandidos em geral. Para inocentes, Bretas é um dos heróis no combate à corrupção no país.

 

Como sabemos, hoje em dia magistrados e membros do Ministério Público se apresentam como os moralistas de plantão, donos da consciência nacional, com autoridade para enquadrar todo aquele que andar fora da linha. Em duas palavras, essas categorias são a representação máxima de decência e honestidade. O problema é que, vez por outra, a realidade resolve atropelar a fantasia das excelências e, por baixo da austeridade togada, o que se vê é lixo.

 

Foi o que ocorreu agora com Bretas. A Folha de S. Paulo revelou em sua edição desta segunda-feira que a vestal recebe auxílio-moradia, mesmo com imóvel próprio e casado com uma senhora também juíza que, vejam a surpresa, também ela recebe o benefício. Resolução do CNJ veta esse pagamento em dose dupla ao casal de magistrados, uma vez que marido e mulher dividem a mesma moradia. É o óbvio ululante. Mas Bretas recorreu à Justiça e garantiu a mamata.

 

Diante do flagrante, questionado por algo indefensável, o juiz argumenta entre o cinismo e a hipocrisia: ganhou o direito ao privilégio abusivo por decisão judicial. É claro. Afinal, foi julgado por seus pares, também eles beneficiários dessa imoralidade que afronta os brasileiros. São os requintes de um sistema ajeitado para garantir o máximo a uma casta e nada para quem trabalha duro e honestamente. Criticar tal aberração pode ser uma ousadia perigosa.

 

E, mesmo com tudo isso, Bretas e colegas se arvoram em dar lições de moralidade a meio mundo, quando suas práticas são a tradução perfeita de uma escandalosa indecência. Isto sim deve ser combatido, mas, emparedados pelo ativismo judicial, demais poderes e instituições se calam, numa demonstração de evidente covardia.

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