Reportagem na Folha de S. Paulo sobre Jair Bolsonaro deflagrou uma nova guerra entre apoiadores e adversários do parlamentar. Nas redes sociais e na imprensa em geral, entre anônimos e celebridades, são muitas as vozes em defesa do pré-candidato a presidente. Um ponto em comum em todas as manifestações favoráveis ao político é o ataque à imprensa.
Em resumo, a Folha apresenta fatos que revelam como a família Bolsonaro (pai e três filhos) prosperou na vida política, multiplicando o patrimônio sem praticamente qualquer outra fonte de renda. A matéria faz o que o jornalismo tem obrigação de fazer: revirar a biografia de figuras que pretendem nada menos que governar o país. Não há nada de errado com a reportagem.
O episódio mostra como a expressão fake news já se banalizou. Todos acusam todo mundo de produzir notícias falsas. Virou a reação automática, ainda mais valiosa quando não se tem mesmo o que dizer. E esse é o argumento principal da diversificada tropa bolsonarista. Sim, digo diversificada porque, ao contrário do folclore, o culto ao elemento mistura classes e perfis.
O próprio Bolsonaro se defendeu com a estratégia de atacar o jornal, sem contestar os números e informações apresentadas. A investida da Folha certamente assusta o deputado. Além de desdobramentos do episódio, outras notícias devem aporrinhar o paladino de fuzil na mão. Quanto mais influente no jogo, mais vigiado ele estará pelo jornalismo. Como tem de ser.
Ainda consigo me espantar quando vejo autoproclamados liberais e conservadores fazendo malabarismos retóricos para justificar adesão a essa tosca figura da política. Tentam enfeitar o monstrengo com teorias que servem para tudo. Por isso, Bolsonaro vai do operário ao magnata, passando pelo intelectual.
Não se deve subestimar nenhum esboço de tiranete, é claro; mas Bolsonaro me parece mais patético do que perigoso. Não digo isso para minimizar o erro de suas ideias pré-históricas, mas para ressaltar a patetice no conjunto da obra. Agora, por mais que a quadra seja de terra arrasada, há sempre espaço para piorar as coisas. A eleição será mesmo das mais agitadas.