O comunismo direto do cemitério

02/01/2018 00:34 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A notícia factual é da semana passada, mas somente agora descobri na internet um vídeo que mostra o sepultamento de Walfrido Pedrosa de Amorim, mais conhecido como Nô Pedrosa. Era um militante político que se autoproclamava anarquista. Passava o dia nos arredores da Assembleia Legislativa, no centro de Maceió. Estava com 78 anos. No cemitério, ao redor do caixão, cantaram o Hino da Internacional Comunista. Não é estranho?

 

A gravação do sepultamento capta a presença de alguns políticos filiados a partidos de esquerda – ainda que Nô Pedrosa, se anarquista, então era inimigo de todos os lados, de todas as ideologias. Mas o ponto extremamente inusitado é a cantoria do hino comunista. Na forma de número musical, aquela breve manifestação política tem o cemitério como ambiente insubstituível.

 

Em termos de força política e popularidade, o nome mais reluzente no cemitério era a ex-senadora Heloisa Helena. Ela também canta os versos dos camaradas comunistas. Heloisa Helena, que já disputou eleição para presidente, deve ter ainda alguma influência em setores da esquerda brasileira. Claro, não sabemos ao certo o que é esquerda brasileira, mas você entendeu o raciocínio.

 

Dizem que o futuro está em debate. Enquanto isso, ilustres figuras da vida pública em Alagoas levantam o braço, com a mão fechada, e exaltam ideias do século 19. Além dos políticos profissionais, vários militantes anônimos reproduzem o gesto. Nada mais natural, me parece, que seja o cemitério o palco da exaltação de algo condenado ao passado. Há também uma boa dose de teatro.

 

Devemos levar a sério a fé de Heloisa Helena e demais militantes na mensagem da Internacional? Vamos considerar que, sim, é tudo verdade. Estamos diante de agentes ligados em missões incontornáveis, essenciais para a transformação do sistema, praticamente a tomada de poder. Ideias impraticáveis e erradas sobrevivem aos séculos. O caso em questão aqui é prova disso.

 

A postura de Nô Pedrosa, rebelde em tempo integral, e um ativista à margem da engrenagem partidária, não combina com o espetáculo dos amigos. Além do mais, entre os vivos no cemitério, ali no velório, havia de tudo, menos rebeldia. Quanto ao comunismo, deve seguir firme como um denso e desafiador objeto de estudo e reflexão. Afinal, é para isso que existem ciência e filosofia.

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