Procuradores e juízes candidatos

19/12/2017 01:38 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Inspirados pelas ações carnavalescas – e muitas vezes arbitrárias – da Lava Jato, magistrados e procuradores do Ministério Público, pelo país inteiro, namoram o caminho das urnas nas eleições de 2018. Para ter votos, falta combinar com os russos, como diria Mané Garrincha. Mesmo assim, tais autoridades estão cada vez mais buliçosas diante do que consideram uma boa chance de chegar lá. Querem mais poder.

 

O suspeito trânsito entre essas categorias – Justiça, MP e política – não é propriamente uma novidade. Há muitos detentores de mandato por aí afora que, na origem profissional, atuavam como promotores ou juízes, até que foram seduzidos pela nobre missão de representar o povo. Em Alagoas mesmo, um ex-chefe do MP hoje é prefeito no interior. Outros membros da instituição, em outras épocas, também abraçaram o ideal da política.

 

Se a chamada judicialização da política está na ordem do dia, o caldo pode engrossar ainda mais com as virtuais candidaturas dos senhores togados. Também por essas bandas, o nome mais vistoso apontado como eventual candidato é o do próprio procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça. Com ligações orgânicas no mundo partidário, o atual comandante do MP alagoano vai sondando alianças com indiscreta desenvoltura.

 

Essa nova realidade na vida pública brasileira transforma a disputa de 2018 numa eleição de variáveis inéditas. Jamais houve um período de campanha eleitoral tão dominado por fatores judiciais como o que teremos no próximo ano. É aí que os guardiões da lei e da ética entram com tudo na caça por um mandato. Se der errado, voltam ao lindo trabalho de combate à corrupção.

 

No país em que até uma porcaria de filme tenta vender togados e policiais como heróis, está tudo dentro da lógica hoje dominante em boa parte dos diferentes setores da sociedade. Mas, na vida real, heroísmo e santidade só existem na cabecinha de inocentes ou na mente esperta dos ansiosos pré-candidatos dessa turma. Valem-se de mistificações para emplacar seus projetos pessoais.

 

Para fechar esse breve comentário, lembro que um dia desses a patota do Ministério Público Federal deu mais uma entrevista coletiva, no Rio de Janeiro, com um objetivo preciso: orientar a escolha do eleitorado. É a nova modalidade do antigo voto de cabresto, uma filosofia política antes atribuída aos velhos coronéis dos confins do país. Como se vê, as coisas sempre podem piorar um pouco mais.

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