“Me respeite! Eu sou deputado”

29/11/2017 01:53 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

A declaração do título é do deputado federal Nivaldo Albuquerque. Ele teria dito isso ao tenente-coronel Pantaleão Ferro, comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar de Alagoas. O explosivo caso, que ocorreu no fim de semana, foi noticiado pela imprensa. O parlamentar e o oficial se encontraram, pelo que entendi dos relatos, numa espécie de festinha no município de Belém, mais precisamente na fazenda da prefeita da cidade, a senhora Paula Santa Rosa.

 

O episódio tem ainda outro protagonista. Trata-se do pai de Nivaldinho (como o parlamentar é tratado por sua turma), o notório deputado estadual Antônio Albuquerque, uma personalidade que dispensa comentários. A recepção na casa da prefeita deveria ser um encontro entre velhos amigos. Curiosamente, é assim mesmo, como amigos fraternos, que as partes se declaram nas versões que apresentam sobre o ocorrido. Agora você imagine se fossem inimigos...

 

Por alguma razão ainda misteriosa, no meio da confraternização o comandante do batalhão e os dois deputados – pai e filho – se desentenderam e praticamente saíram no tapa. O PM foi a uma delegacia e registrou boletim com a denúncia de que teria sido agredido. Os parlamentares negam. Antônio Albuquerque diz que o oficial estava embriagado e, por isso, teria perdido a noção da realidade. Sendo assim, temos um oficial bêbado num bate-boca com dois políticos pacifistas.

 

Vou tratar agora de dois aspectos dessa ocorrência deplorável. O primeiro é a cobrança por respeito feita pelo filhote dos Albuquerque. É sintomático que ele reivindique ser respeitado especificamente pelo mandato que exerce. É o carcomido argumento de autoridade, uma longa e sólida tradição na vida pública brasileira. Dê um carguinho a um cretino qualquer – e ele vira o capeta.

 

O segundo aspecto se refere à Polícia Militar. Por que diabos o comandante de um batalhão mantém relações tão íntimas com detentores de mandato, ainda mais no interior do estado, a ponto de frequentar a casa da prefeita para festejar com políticos? Esse é o padrão? A postura deveria ser o oposto. Pelos cargos, de lado a lado, tal relação de proximidade jamais dará em boa coisa.

 

Até o momento em que escrevo este texto, o comando-geral da PM não se manifestou sobre a presepada. O mais provável é que fique tudo como está; ou seja, a rixa deve ser resolvida na base de conchavos entre os velhos camaradas. É assim que funciona no planeta do coronelismo – desde as épocas remotas até os dias atuais. Para certas cabeças, o mundo medieval é hoje, e nunca vai mudar.

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