Quando um juiz rasga a Constituição

26/10/2017 01:50 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Toda vez que alguém ousa apontar excessos e abusos na Operação Lava Jato, a reação é a mais previsível do mundo – e a mais superficial também: aquele que critica está movido por intenções malignas e tem como objetivo único proteger os corruptos. Acrescente-se a isso o fato de a operação não ter apenas simpatizantes, mas, em boa medida, uma torcida fanática.

 

A coisa é tão pesada que não são poucos os que evitam criticar o juiz Sergio Moro e sua turma curitibana, pelo temor do revide virulento. Se você reclama desses heróis de toga, corre o risco de ser carimbado como um corrupto igual aos que estão sendo presos todos os dias. Daí que até ministros do STF cedem ao medo da turba que defende um regime no estilo pega pra capar.

 

É uma pena que assim seja. Quando a gente dá carta branca para autoridades rasgarem a Constituição e as leis, estamos perdidos. Será que é tão difícil entender que o atropelo da legalidade não afeta apenas um acusado, mas toda a sociedade? Se um juiz ou um promotor pode avançar sobre a vida de alguém chutando princípios legais, a próxima vítima pode ser você.

 

Os senhores da Lava Jato sabem desse clima e, por isso mesmo, manipulam tal sentimento na defesa de ações indefensáveis. Quantas vezes não vimos Moro e integrantes do Ministério Público anunciando que há uma conspiração contra as investigações? Diante dos flagrantes de ilegalidades, a resposta é espalhar a versão de que a Lava Jato é vítima de antipatriotas.

 

Dane-se a lei, pensam os que defendem qualquer loucura por parte de investigadores. Estou fora dessa. Juiz deve obediência à Constituição. Para julgar qualquer pessoa, ele deve ler e aplicar o que prevê o ordenamento jurídico. Magistrado que se acha acima do bem e do mal deve aplicar as idiossincrasias de sua cabecinha em sua vida particular. No Direito, não.

 

Bater na república de Curitiba é tarefa ingrata. A imprensa está cheia de jornalistas metidos a valentões que não perdem a chance de acusar qualquer um que discorde dos métodos espúrios da Lava Jato. Há nisso também porções cavalares de populismo e hipocrisia. Está tudo tão dominado que dá até uma certa canseira ouvir a mesma coisa todo santo dia.

 

Mais uma vez, insisto: não se combate um crime sujando as mãos com outro crime. A velha história dos fins que justificam os meios é uma tragédia que não pode jamais prosperar, muito menos ser aceita como se fosse natural. Isso é coisa de regimes totalitários. E de gente no mínimo equivocada. O cumprimento da lei é o oxigênio das democracias. Gostem ou não Sergio Moro e sua patota.

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