Deus é um cabo eleitoral decisivo

23/10/2017 15:34 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Nova pesquisa Datafolha confirma que Deus continua sendo um cabo eleitoral de peso entre a população brasileira. Por isso, candidatos devem ficar atentos a esse fator esotérico na hora de partir para a campanha. Se a crença no pai de Jesus não é garantia automática de voto, rejeitá-lo certamente vai reduzir as chances de êxito na boca da urna. A pesquisa saiu nesta segunda-feira.

 

O levantamento avalia especificamente a força dos evangélicos na eleição. Ironicamente, dois candidatos de perfis opostos – Jair Bolsonaro e Marina Silva – são os favoritos entre esse eleitorado particular. O dado paradoxal parece revelar o grau de irracionalidade numa escolha que se baseia em supostos valores religiosos. Definitivamente, não me parece algo saudável.

 

O índice mais eloquente na pesquisa, no entanto, é acerca da influência do Altíssimo sobre os eleitores. Nada menos que 52% da população afirmam que rejeitam qualquer candidato que se apresente como ateu. Um número nesse patamar sinaliza que o homem de pouca ou nenhuma fé, portanto, estará condenado ao fracasso se o eleitor desconfiar de sua descrença.       

 

A realidade confirmada pela pesquisa nos lembra de um caso antigo. Em 1985, bem antes de sonhar com a Presidência da República, Fernando Henrique Cardoso tentou se eleger prefeito de São Paulo, mas tropeçou na falta de fé. Em debate mediado pelo jornalista Boris Casoy, FHC caiu na armadilha ao falar sobre crença religiosa. Ateu, ele acabou se enrolando na resposta e se deu mal.

 

Não se pode garantir que o episódio tenha sido o fator determinante na derrota de FHC. Mas a verdade é que a repercussão provocou um estrago e tanto na campanha, ajudando o candidato adversário a disparar na reta final e levar a prefeitura paulistana. Hoje, parece até loucura, mas o vitorioso naquela ocasião foi o inclassificável ex-presidente Jânio Quadros.

 

Se mais da metade da população informa que sua escolha está atrelada ao dilema de ser ou não ser seguidor do Divino, é claro que cem por cento dos candidatos se apresentam como devotos desde criancinha. Todo mundo anda com um terço, vai a procissões ou vigílias e gasta boas horas do dia em compungidas orações. Se preciso for, em nome do voto todos pagam qualquer penitência.

 

Não bastasse o massivo apoio do eleitorado, como se sabe, Deus é brasileiro desde o princípio e não será boa coisa desafiar tamanho poder. Dizem que a cabeça do eleitor é imprevisível – e os fatos mostram que ele é capaz de tomar as decisões mais insanas. Mas quando o assunto é a reverência ao Senhor, não convém contar com a flexibilidade dos fiéis. Ateu é candidato ficha suja.

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