Por que o povo desistiu das ruas

21/10/2017 10:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Quando a coisa se complica pra valer e se descobre que o bicho tá pegando, parece que todo mundo olha ao redor e começa a gritar – entre a cobrança, a raiva e a indignação: cadê o povo na rua?! Essa ideia está em textos a granel que tentam analisar o quadro político no país. Pelo que se nota, também nesse caso, esquerda e direita estão juntas no clamor pela insurgência popular.

 

Existem os que reclamam porque os panelaços sumiram logo depois da queda de Dilma Rousseff. Para esses, quem enchia as avenidas contra a corrupção, ainda no governo do PT, era um bando de alienados a serviço das elites que decidiram derrubar uma presidente legítima. Com Michel Temer no poder, a horda manipulada pela direita fascista voltou para casa.

 

Mas é preciso reconhecer que no universo de vozes que lamentam o sumiço das manifestações de rua há de tudo, até mesmo direita e extrema direita. Claro. Afinal, os fenômenos do dia a dia – e a vida em geral – são por demais complexos para se deixarem encaixar por explicações simplórias. Isso só ocorre quando queremos dobrar a realidade às nossas ideias e causas de estimação.

 

E é exatamente isso o que se vê na troca de sopapos entre supostos esquerdistas e aparentes reacionários de direita. Cada qual vê a paisagem de acordo com suas inclinações irresistíveis. Por isso o bloco dos que condenam a omissão do povo é diversificado – e tenta explicar de qualquer jeito o que não é fácil de entender. Enquanto isso, as pessoas tocam o barco.

 

Foi sempre assim. Protestos, levantes, golpes e revoluções jamais existiriam sem as massas. Ocorre que os movimentos de mobilização gigante um dia terão de acabar. E o que acontece após o desfecho das revoltas será, necessariamente, o reordenamento das diferentes forças em jogo. Como não existe briga que dure para sempre, as ruas também serenam. 

 

O caso agora é outro, é verdade, e não tenho a menor ideia sobre as razões que empurram as famílias para o barulho das ruas ou para o silêncio recatado do lar. A militância estridente, de qualquer lado, também não sabe, mas seu compromisso não é com os fatos, e sim com suas paixões incontestáveis. Tenhamos calma. Qualquer dia desses, a rebeldia à deriva bate o ponto.

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..