A jovem guarda celebra Bolsonaro

14/10/2017 01:40 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Jovem é outro papo, ninguém duvida. Mas é, antes e também, um tipo de categoria sociológica. Basta verificar que nenhuma outra faixa etária é tratada com a reverência dispensada à juventude. Não exponho uma opinião particular, e sim uma constatação. Para fazer um recorte simplório, pense na eterna celebração à década de 60, que mudou o renovador século XX.

 

Há episódios antecedentes e nomes precursores, mas foi ali, nas explosões de protestos franceses, na histriônica revolução de costumes e nos panfletos da contracultura, que o jovem fincou sua bandeira no topo das prioridades nacionais. E desde então nada mais pode ser feito e nada desfeito será sem a palavra da autoridade final. Vamos seguir os rumos da sensibilidade juvenil.

 

A rebeldia, na arte e na política, está associada infalivelmente à juventude. Os beatniks eram jovens. Os caras-pintadas – a imagem da precocidade engajada – eram adolescentes. No Romantismo, os poetas que tinham tudo a dizer foram gigantes na mocidade; e morreram cedo. Para reinventar a estética ou disparar a revolução, convoque-se a garotada.

 

O corpo envelhece, mas a cabeça não. Não existe o velho. O que vale é o espírito de juventude. São frases assim que, além de atentados contra o idioma, reafirmam a supremacia de uma faixa de idade eleita como a perfeição da existência. Vem daí a desenvoltura de tantas inteligências, ainda na flor da idade, dispostas a mudar o mundo. Tudo o que precisam é de oportunidade.

 

E com todo esse passado de glória, vem do poder jovem a exaltação da novidade mais barulhenta e atrasada na política brasileira: o fenômeno Jair Bolsonaro. Estranhamente, são grupos de jovens, espalhados em diferentes regiões do país, que organizam as maiores manifestações em defesa do candidato a presidente. Um candidato que resume o pior moralismo e ideias autoritárias.   

 

Nos eventos de apoio a Bolsonaro, as mensagens de intolerância e a exaltação do radicalismo inflamam plateias ávidas por discursos e práticas violentos. É uma contradição em termos. Onde está o espírito libertário e pacífico tão decantado como marca registrada dos jovens? E o que tem Bolsonaro de tão novo que atrai tanta gente na faixa dos vinte e poucos anos de idade?

 

É uma boa questão para estudiosos e cronistas do nosso dia a dia. O cenário que aponta Bolsonaro com chances reais numa eleição presidencial diz muito sobre a crise de hoje. Mas diz muito também sobre a juventude de qualquer época. As pesquisas eleitorais estão aí como que desmentindo as maravilhas tidas como inerentes à cabeça dos mais novos. Também se muda para pior.

 

Jair Bolsonaro está tão superado quanto a expressão jovem guarda. Mais que isso, um e outro seriam termos incompatíveis quando pensamos em projetos para um país em permanente terremoto político. Seriam. Mas andam juntos por aí; e não somente no título deste texto.

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