Papagaiada na sala de aula e na TV

09/10/2017 15:45 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Começou a temporada de reportagens sobre as provas do Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio. Em todo o país, mais de 6 milhões de candidatos disputam o ingresso em universidades públicas. O número de inscritos caiu em relação aos anos anteriores. As avaliações estão marcadas para os dias 5 e 12 de novembro. (Mas eu comecei o texto falando de reportagens).

 

Acabo de ver na TV uma matéria sobre alunos que estão se preparando para o Enem. Quando o jornalismo entra na seara da educação, de duas uma: ou o professor é um “herói” injustiçado ou é um engraçadinho, adepto de macaquices, para facilitar o ensino de coisas complicadas. Os alunos que vi agora mesmo na televisão se acabavam de rir com as estripulias do mestre.

 

Não sei como tudo começou, nem quando, mas faz muito tempo. Nas escolas e cursinhos que preparam o estudante para entrar na universidade, a credencial de animador de auditório é o requisito mais valorizado no professor. Parece existir algum decreto que instituiu tacitamente a Pedagogia da Papagaiada. Bom professor, idolatrado por mocinhas e mocinhos, é o comediante.

 

Estrelas nesse show de patetice disfarçado de educação, os mestres na arte de ensinar aparecem em outdoors pela cidade. A pose de superstar lembra os anúncios dos grandes nomes da sofrência. No lugar da qualidade pedagógica, os cursinhos vendem a estampa pessoal de seu desinibido time de engraçadinhos. Ao ver a publicidade, dá pra imaginar a seriedade da coisa.

 

Na sala de aula, as piores expectativas se confirmam. Alguns repassam as lições dedilhando violão e cantarolando trocadilhos imbecis. Outros, ainda mais ousados, se apresentam fantasiados de personagens de filmes produzidos para desmiolados. E existem ainda os que levam para o picadeiro, quer dizer, a sala de aula, episódios e experiências de suas intimidades. É o auge.  

 

E os estudantes? Aprovam tudo. Reconhecem nesses charlatões escolares verdadeiros gênios do conhecimento universal. Repetidores de fórmulas, dicas e macetes, esses dublês de professores são tomados até por gurus por uma juventude que celebra qualquer mediocridade. E pagam caro por isso. Porque nessas escolas estão os filhinhos da nossa elite mais endinheirada. Veja o nível.

 

Volto ao jornalismo. A imprensa adora o professor de macaquices. Muito especialmente na TV, a coisa atropela todos os limites em nome da cretinice. Afinal, como sabem os repórteres de televisão em Alagoas, uma boa matéria precisa de um fecho humorístico. O repórter engraçadinho é visto como exemplo a ser seguido. Quando o assunto é uma aula para o Enem, a insanidade está completa.

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