A Globo, a Record e o prefeito Crivella

07/10/2017 00:47 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

As grandes batalhas entre veículos de imprensa em defesa de causas políticas antagônicas formam um capítulo fascinante na história brasileira. A literatura é vasta e tudo começa mesmo nos primórdios do que se pode considerar, com as devidas ressalvas, a presença do jornalismo entre nós, a partir do século 19. Até 1808, como se sabe, a imprensa era proibida pela Coroa portuguesa.

 

Mas essa é uma história caudalosa. Agora vamos falar apenas de pequenas batalhas em nome de causas igualmente menores. No país conflagrado entre esquerda e direita, conservadores e liberais, reacionários e libertários, eis que a Rede Globo e a Record TV apresentam armas para atacar e defender o prefeito do Rio, Marcelo Bezerra Crivella.

 

O prefeito vetou na capital fluminense aquela mesma exposição que gerou a idiota polêmica a partir de Porto Alegre. Os argumentos do bispo licenciado da Igreja Universal são os mesmos dos que forçaram o cancelamento da exposição na capital gaúcha. Ele alega que as obras ofendem os valores da família, com exaltação da pedofilia e agressão a símbolos religiosos.

 

A decisão do prefeito rendeu cobertura nos telejornais da Globo e da Record – com abordagens absolutamente opostas. A primeira ressaltou o caráter autoritário e discriminatório na postura do político que chefia a cidade. Claro que não houve um ataque direto no texto dos repórteres. É preciso sutileza nessas horas. As duras críticas apareceram nos personagens escolhidos para falar.

 

Do outro lado, a reação veio com a fala do povo. Nas ruas, foi fácil para a Record encontrar depoimentos de apoio à decisão oficial. As famílias cariocas não querem desrespeito a seus filhos e consideram que pornografia não é arte. Além disso, a prefeitura se apoia em pesquisa que atesta o repúdio da população ao evento artístico. Nenhuma referência a qualquer tipo de censura.

 

As duas redes já travaram brigas mais sanguinolentas, num clima de guerra que se instalou há cerca de vinte anos. A emissora de Edir Macedo exibiu recentemente um verdadeiro documentário para acusar a Globo numa operação de sonegação fiscal. Nessas ocasiões, quem dá voz aos ataques são as maiores estrelas do jornalismo nas duas casas. 

 

Para além das motivações do atual confronto, Crivella é apenas um político medíocre no meio do tiroteio. O velho ódio reaparece, de parte a parte, mas o que está em jogo é o que sempre esteve. Naturalmente, você deve saber que ninguém é santo nesse altar de interesses particulares. As duas emissoras se equivalem na manipulação das informações e na distorção dos fatos.

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