“Os desafios do mundo globalizado”

05/10/2017 18:23 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Todos nós estamos sujeitos a expressões ocas, de significado absolutamente nenhum, ou inútil. Mas, como o leitor percebeu, as aspas no título deste texto indicam que eu não cometeria tamanha infâmia com a linguagem. A frase foi usada em reportagens que explicam a palestra que Barack Obama ministrou hoje em São Paulo. O ingresso custou 7 mil e 500 reais.

 

Como já escrevi aqui, o ex-presidente americano veio ao Brasil para falar no Fórum Cidadão Global, organizado pelo banco Santander e jornal Valor Econômico, que pertence às organizações Globo. Ou seja, duas entidades empenhadas na promoção da cidadania pelo mundo afora. O homem disparou uma coleção de fórmulas para alcançarmos a utopia de um planeta mais justo e igualitário.

 

“É preciso empoderar as pessoas”, começou o guru das elites que se preocupam com a desigualdade social e econômica. Falando para banqueiros e empresários como José Roberto Marinho, Obama convocou todos à guerra contra a concentração da riqueza. Ele sabe, naturalmente, que sua plateia deve ter ficado comovida com essa bandeira de luta em nome dos mais pobres. Todos vão se engajar.

 

Após sustentar que “é preciso fechar a distância entre ricos e pobres”, o palestrante acrescentou que “é preciso fazer políticas que inspirem pessoas a substituir o medo pela esperança”. Pense um pouco e responda: você já ouviu isso em algum lugar? Na mesma trilha de originalidade, Obama fez uma defesa enfática da “importância do pluralismo, da diversidade e do império da lei”.

 

Conhecedor profundo das transformações na vida contemporânea, o americano nos informa, em primeira mão, que “o mundo está mais conectado do que jamais esteve”. Para assombro dos pagantes pela palestra milionária, lembrou que a internet distribui conhecimento de maneira inédita na história. Mas fez um lamento, também com sagacidade: a grande rede dá voz a quem pretende “espalhar terror e medo”.

 

Parte da aula tratou, é claro, do avanço da xenofobia no mundo. Nesse ponto, Obama comparou Brasil e Estados Unidos. Mais uma vez, brindou o público com uma ideia perspicaz e inventiva: “Nós devemos ter um senso renovado de abertura para pessoas de diferentes culturas que não se parecem conosco”. Foi realmente um marco nos debates sobre o destino da humanidade.

 

Leio tudo isso em matérias espalhadas pela imprensa. Esse é o nível dos grandes palestrantes que ensinam todos os segredos sobre todas as coisas. São tratados como detentores de conhecimento raríssimo e, a cada potoca verbalizada, com gravidade e eloquência, são ovacionados calorosamente. 

 

Fiquei aqui pensando se a Lava Jato não teria curiosidade em investigar o pagamento da palestra de Obama – como faz com as palestras de Lula. Se não pela suspeita quanto à existência do seminário, posto que o convidado apareceu e falou, mas pela acintosa afronta de outro crime: o de conteúdo fraudulento.

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