África & Brasil e suas articulações com Alagoas

05/10/2017 11:45 - Fábio Guedes
Por Redação
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A Bienal Internacional do Livro de Alagoas, em sua oitava edição, é o maior evento cultural, artístico e acadêmico do estado, provavelmente um dos maiores do Nordeste.

São dezenas de livros lançados, a presença de importantes editoras, realização de palestras, mesas-redondas, apresentações e manifestações culturais, ou seja, uma variedade enorme de atrações numa programação recheada de conteúdo, salutar para Alagoas, especialmente em um contexto de ausência de diálogos, práticas de intolerância racial, de gênero e julgamentos morais que deixariam alguns de nossos ancestrais orgulhosos se pudessem observar a conservação de tabus e crenças.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas, a Editora da Universidade Federal de Alagoas e a Imprensa Oficial Graciliano Ramos, no começo desse ano, lançaram um edital de apoio à publicação de livros originados na comunidade acadêmica vinculada à pós-graduação. O objetivo foi incentivar e contribuir para que a produção científica cresça e nosso sistema de pós-graduação seja melhor avaliado nesse quesito nas próximas rodadas de qualificação, realizadas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior – Capes.

Em parte esse objetivo foi alcançado, pois na 8ª Bienal foram lançados 30 livros e mais 30 serão colocados à disposição do público logo após a realização do evento. Portanto, são 60 livros envolvendo professores, pesquisadores e estudantes. Várias áreas do conhecimento foram contempladas. Emocionante e gratificante testemunhar muitos deles, especialmente estudantes, registrando suas primeiras dedicatórias nas contracapas dos livros. Muitos outros livros foram lançados e o Café Literário Cantinho das Ideias, espaço contíguo a Edufal, a partir das 19 horas, repleto de pessoas para prestigiar de 5 a 9 lançamentos por dia durante a semana de realização da Bienal.

Tive o privilégio de testemunhar vários desses lançamentos. Em um deles fui convidado, com muito orgulho, a escrever um rápido prefácio. Trata-se do livro produzido pela Edufal, África & Brasil – histórias que cruzam o Atlântico (séculos XVI-XIX), organizados pelos professores dos curso de graduação e pós-graduação em História da UFAL, Gian Carlo de Melo Silva e Flávia Maria de Carvalho. Um trabalho coletivo, valorizando a produção científica dos alunos de história, inserindo-os na difícil, mas prazerosa, tarefa de escrever, dissertar, analisar e compreender o mundo a partir de suas escolhas temáticas. Abaixo segue o nosso texto de abertura do livro.

 

O Brasil se aproxima do final do primeiro quartil do século XXI e os principais traços de seu passado escravocrata e primário-exportador persistem em acompanhá-lo. Não será fácil se desvencilhar do passado, porque suas características se mantém desde a gênese, passando pela formação e determinando sua dinâmica por mais de três séculos até a alvorada do século XX.

No escravismo colonial, esta forma singular de exploração, criação e acumulação de riquezas, o empreendimento comercial europeu levantou uma complexa estrutura socioeconômica, muito distinta do sistema moderno que, a partir do século XVII, começou a se desenvolver na própria Europa central.

Geralmente, defendemos a ideia da necessidade de se pensar e discutir o futuro do Brasil, seu desenvolvimento econômico e social. Atualmente isso é ainda mais precioso, em razão das circunstâncias nos retrocessos nas lutas contra o preconceito, racismo, xenofobia, desigualdade de renda e riqueza etc. Entretanto, a ideia de progresso jamais deve excluir ou censurar a possibilidade de se revisitar o passado, nossa história, e nele fazer a crítica e evidenciar novos elementos que ampliem nossos conhecimentos, especialmente sobre a escravidão no Brasil e seus laços com o continente africano.

É isso, então, o propósito desse bonito trabalho de jovens e competentes estudantes e professores da Universidade Federal de Alagoas, mais especificamente do Laboratório de História da África e História Afro-Brasileira – Lahafro e do Núcleo de Estudos Sociedade Escravidão e Mestiçagem – Nesem, da Universidade Federal de Alagoas.    

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