Um suicídio sacode o país e desafia a imprensa brasileira

03/10/2017 17:23 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Nas últimas horas um episódio dramático desafia e incomoda a grande imprensa. Refiro-me ao suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Cancellier. Há duas semanas, ele e outros professores da universidade foram presos pela Polícia Federal, acusados de um desvio milionário de verbas.

 

A morte do reitor provocou comoção em Santa Catarina e tem forte repercussão no meio político por uma razão específica: para muitos, ele teria sido vítima de mais uma ação carnavalesca da PF e do Ministério Público Federal – exatamente como se vê nos atos corriqueiros da Lava Jato. O gesto do reitor está sendo debatido intensamente pela internet e também no Congresso Nacional.

 

Ainda assim, no momento em que escrevo, o assunto não aparece nos destaques de nenhum portal dos grandes veículos de comunicação, nem entre os jornais e nem nos sites das revistas semanais que temos. Mas não faltam protestos e manifestações de repúdio aos métodos da PF e do MPF por parte de jornalistas consagrados e mesmo de várias autoridades.

 

Da OAB catarinense a senadores e deputados, passando por advogados, sindicatos e diversas associações de classe no país, há uma avalanche de acusações na mesma linha: o reitor teria sido exposto de forma abusiva, acusado sem provas, alvo do sensacionalismo rasteiro, e viu sua honra achincalhada pela sanha justiceira que norteia a atuação de delegados e procuradores da República.

 

Das incontáveis críticas à operação de SC – que resultou na morte do professor – reproduzo apenas um pequeno trecho de artigo do jornalista Luis Nassif, que resume bem o espírito da coisa: “Que seu sangue caia sobre todos seus algozes. Mas, especialmente, sobre os que destruíram os alicerces dos direitos individuais pensando exclusivamente em seus próprios interesses”.

 

Essa não é uma postura isolada. Ao contrário, é o clima em boa parte dos meios virtuais de informação – menos nos veículos tradicionais. Vários nomes de peso no jornalismo, tão conhecidos e influentes quanto Nassif, atacam na mesma frente e batem com a mesma ênfase. O reitor não teria suportado o peso da infâmia que usa credenciais do Estado.

 

As motivações e a metodologia dessas operações policialescas – inspiradas pela inquisição do MPF – estão no alvo de uma artilharia inédita. Lula também se manifestou em nota afirmando que o reitor foi vitimado pela indústria que produz a “destruição de reputações”. Esse é o padrão do entendimento que se espalhou de ontem para hoje.

 

Não sabemos se o reitor estava ou não envolvido com desvios na universidade. Sim, muitos que falam agora respondem por várias acusações. Mas a tragédia da morte do professor é um sinal de alerta evidente sobre o que se passa no Brasil de hoje. As operações intermináveis, e a Lava Jato em particular, perpetraram uma coleção de ilegalidades em variados momentos. 

 

Por tudo isso, a imprensa parece atordoada nas últimas 24 horas. Noticiou o suicídio com rapidez e deliberado desleixo. Na sequência, silencia de modo ridículo sobre um fato que sacode a vida pública como poucos nos últimos tempos. Vamos ver até quando.

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