Lugar da torcida é na arquibancada

02/10/2017 17:25 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Como o leitor pode conferir aqui no CADAMINUTO, a revolta parece ter tomado conta da torcida do CRB, depois de uma sequência de cinco derrotas no Brasileirão. A galera, que chegou a sonhar com um acesso à primeira divisão, agora vê o abismo do rebaixamento perigosamente se aproximar. Só faltava o Galo cair no mesmo ano em que o inimigo histórico, o igualmente glorioso CSA, conquista o acesso para a Série B. Seria a tragédia completa.

 

E eis que, movidos por esse fanatismo que incendeia a paixão por um time de futebol, dezenas de torcedores invadiram o aeroporto de Maceió, no último sábado, quando os jogadores do CRB retornavam para casa após o último fracasso. Queriam falar diante dos atletas o que eles precisam ouvir. Para a torcida, falta “raça”, “entrega” e, o mais grave, “vergonha na cara”.

 

Coisas assim são rotineiras por todo o Brasil. Há casos mais graves, como depredação a centros de treinamento e episódios de agressão física a jogadores. São Paulo, Vasco e Atlético-GO, para citar exemplos mais recentes, passaram por tumultos semelhantes nas últimas semanas. Tudo indica que estupidez e violência fazem parte dos estatutos das Torcidas Organizadas.

 

E qual a reação dos clubes quando isso ocorre – no Corinthians, no Flamengo ou no CRB de Alagoas? A resposta explica parte do problema insolúvel: todos reagem com a mais doce e deplorável covardia. É exatamente o que faz agora o time alagoano. Digo isso depois de ler a nota que a direção do CRB publicou nesta segunda-feira. É praticamente um pedido de desculpas àqueles que pretendiam atacar os atletas.

 

O texto da presidência do Galo se esmera em dar explicações ao fato de a delegação, ao desembarcar, ter saído do aeroporto sem passar pelos torcedores. Ora, foi uma medida acertada. Não só para proteger os integrantes do clube, mas também pela segurança de dezenas de pessoas que estavam chegando ou à espera de embarque. Pessoas que nada tinham a ver com a presepada.

 

Mas os cartolas, que não se interessam pelo cumprimento da lei, menos ainda se importam com regras de civilidade. O que eles querem mesmo é bajular torcedores – ainda que estes se comportem como bárbaros dispostos a arrancar cabeças e à quebradeira geral. A postura servil e cúmplice apenas reforça a convicção das Organizadas que distribuem bandalheiras por todas as divisões.

 

Nos clubes, controlados por políticos, ou seja, uma turma preocupada com jogadas eleitoreiras, sem compromisso com alguma decência no futebol, é natural que predomine a ampla decadência – no esquema tático e nos valores éticos. Com esse tipo de gestão, sem qualquer perspectiva de mudança (nos campos alagoanos e lá fora), vamos continuar assistindo ao jogo sujo. 

 

A nota do CRB diz que “em nenhuma hipótese suas ações tiveram a intenção de desrespeitar a torcida”. Nenhuma palavra de apoio e solidariedade aos jogadores. Uma vergonha. Vandalismo, ameaças e agressões – nada disso tem a ver com suposto amor por um time. Quer apoiar, protestar ou gritar gol, compre um ingresso e se acomode na arquibancada.

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