Pensando besteiras

01/10/2017 16:51 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

Nenhum pensamento chega pronto, resoluto e acabado. Simultaneamente, somos assaltados pelo que há de mais fragmentário e efêmero, sem que nada se imponha como um todo, articulado em etapas, deduções e teses conclusivas. É a hora fatal do aforismo inconsequente, despretensioso ou apenas oportunista. Você escolhe.   

 

1. Domingo, primeiro de outubro de 2017. Faltam 92 dias para o ano acabar. Aqui, nessa parte da cidade, perto da lagoa Manguaba, a quentura confirma o mormaço típico do Nordeste do país.

 

2. Maceió é um conjunto de fotografias da memória. É o que Lêdo Ivo traduziu na vastidão de sua poesia. Afinal, é para isso – também – que existe a grande literatura.

 

3. Os acontecimentos estão à espreita. Um emaranhado de nuances reveste a aparente calmaria ou a alucinação de um espanto. Nada de novo sob o sol do Eclesiastes – mas quem é que sabe?

 

4. Nas casas e na rua; nas metrópoles e nos povoados; nas multidões ou na rotina de um solitário qualquer: o mundo como ideia, na palavra e no silêncio. Tudo o mais é o que vamos escrevendo.

 

5. Na regularidade das tarefas, nos habituamos facilmente a modelos e convenções. Cercados pela caretice que nos estimula à ordem, gostamos de ver certezas absolutas onde pulsa até o inominável.

 

6. Exigem que você tenha foco, persistência, organização e destino de empreendedor. Coisa do capeta e sua equipe. É a receita para o milagre do sucesso e da felicidade. Ou se enquadra ou é a danação.

 

7. Jacobino, uma palavra que ameaça a supremacia de fascismo, invadiu todas as crônicas, seminários e palestras. Serve para encaixar erudição nas explicações sobre o mundo. Até os botecos se renderam.

 

8. Quem fala em jacobinos, a depender da conveniência, reclama da guilhotina sobre sua cabeça ou pretende guilhotinar o pescoço alheio. Porque a vida é dialética.

 

9. Nostalgia. O valor da experiência. A mercadoria da humildade como disfarce da soberba. O desapego fingido. As citações como argumento de autoridade. Quantas páginas nos desafiam com a potência da inutilidade.

 

10. Comecei a lista com uma data e um cenário, mas o tempo e o lugar se desdobram. O vento bate numa janela. Alguém atravessa uma ponte. Você dispara um xingamento. Um livro se perdeu. Tratamos o mistério com displicência.

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