O centenário do Rei do Jabá

30/09/2017 17:48 - Blog do Celio Gomes
Por Redação

José Abelardo Barbosa de Medeiros, o homem que arremessava bacalhau para seu auditório, nasceu há cem anos, num 30 de setembro como hoje, em 1917. No Brasil, é um centenário mais festejado que o da revolução bolchevique na velha Rússia. Foi na década de 1950 que o país começaria a conhecer aquele que se transformaria no mitológico Chacrinha, o Velho Guerreiro.

 

Reza a lenda que a ideia de jogar bacalhau na cabeça dos que formavam a plateia de seus programas nasceu por uma demanda publicitária. A casa que comercializava o produto estava em crise, com as vendas em baixa. O gesto, à altura das tradições mais bizarras da TV brasileira, deu resultado. As vendas explodiram e o apresentador garantiu a grana do patrocínio.

 

A jogada mercadológica de Chacrinha não foi a primeira nem a última. Ele era o rei do jabá, o termo que serviu para definir – no submundo das emissoras de rádio – uma prática até hoje reproduzida como verdadeiro dogma. Resumindo, sem enfeite, é o seguinte: para tocar a música, tem de pagar um dinheirinho. O suborno entrou para o organograma das gravadoras de disco.

 

No Cassino do Chacrinha, o jabá se materializava de modos variados. Para brilhar no palco mais cobiçado da televisão, cantores e bandas não precisavam necessariamente pagar à vista; podiam fazer um acordo para tocar, sem cachê, nos shows que o apresentador organizava fora da TV. Ou entrava na chantagem ou não cantava para a massacrante audiência televisiva. Poucos resistiam.

 

Episódios desse capítulo pouco nobre da televisão, envolvendo um bocado de artistas, estão em livros de nomes como Paulo César de Araújo, André Midani, Nelson Motta e Lobão. Também se conta sobre isso no imperdível documentário Alô, Alô Terezinha!, de 2009, dirigido por Nelson Hoineff. É um coquetel de insanidades. O cara que veio para confundir, e não para explicar, saiu do ar em 1988.

 

Dizem que Chacrinha foi revolucionário. Até pode ser. Reinou durante três décadas e, durante esse período, incrementou trajetórias, inventou novidades e foi decisivo para vender milhões de discos. Seus herdeiros estão em todos os canais, distribuindo macaquices pra todo lado. Mas é incontornável que se diga, com o vocabulário atual, que era alguém de práticas pouco republicanas.

 

Quanto à filosofia do jabaculê, mesmo com a internet, segue inatacável na TV e FMs da vida. Mudou apenas a metodologia da malandragem. Por isso, jamais acredite nas paradas de sucesso. A máquina se move segundo a melodia da propina. Quem não suborna, se trumbica.

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